São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003 |
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POLÍTICA CAÇA-TALENTOS Praticado por EUA, México e outros, "hunting" para cargos de comissão pode chegar ao Brasil Consultorias querem governo como cliente
TATIANA DINIZ DA REPORTAGEM LOCAL "Caçar" homens para a política do mesmo modo que o mercado rastreia profissionais gabaritados para ocupar posições estratégicas em grandes empresas. De acordo com consultorias de recursos humanos de atuação internacional, essa é uma tendência que pode ser adotada por órgãos governamentais brasileiros no longo prazo. A fórmula já é conhecida em países como Estados Unidos e México, nos quais o uso de ser- viços profissionais de recrutamento tornou-se popular para o preenchimento dos chamados cargos comissionados ou de livre provimento (que não prescindem de um processo seletivo público). No México, o atual presidente Vicente Fox foi o fomentador do modelo que nomeou, com auxílio de consultorias, profissionais de alto escalão do governo -de secretários a assessores de gabinete. Liberal e ex-representante da Coca-Cola em seu país, Fox introduziu no governo mexicano uma boa dose de práticas de gestão de recursos humanos características da iniciativa privada. As contratações foram encomendadas à consultoria Korn Ferry, e os serviços de treinamento foram solicitados à Franklin Covey para capacitar equipes de várias áreas. "Na ocasião, a caça aos talentos para ingressar no governo do México se estendeu ao Brasil, onde procuramos mexicanos que atendessem aos requisitos solicitados", afirma Robert Wong, sócio-diretor da Korn Ferry no Brasil. Já nos Estados Unidos, a urgência na incrementação da segurança após o 11 de Setembro foi um exemplo de demanda do recrutamento profissional. "Após o atentado, a Korn Ferry americana foi contratada para localizar aproximadamente 80 homens que assumiram cargos de diretoria nos aeroportos", exemplifica Wong. De olho na possível tendência, a consultoria Ray & Berndtson, recentemente reestruturada, organizou um núcleo de "head- hunting" para governo, com o objetivo de fincar pé nesse filão. "O preenchimento de cargos de confiança é um nicho de atuação para as consultorias. Passados os meses de acomodação política, os governos começam a demandar experiência específica para conduzir projetos", observa o consultor Francisco Britto, responsável pelo novo núcleo da Ray. Britto ressalta que nas empresas públicas, como Petrobras e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)-que constituem órgãos federais no organograma da União-, a "caça" para posições que exigem histórico profissional específico já existe. "Há postos que requerem conhecimento técnico elevado. Por exemplo, a chefia de tecnologia de uma estatal ou de uma secretaria. "Headhunters" podem ajudar muito." Porém, até agora, a Ray & Berndtson ainda não fechou nenhum contrato nesse sentido. "Um leão por dia" Na opinião de Vania Lage, gerente da KPMG Assessoria em RH, o maior desafio desse tipo de serviço no Brasil seria convencer executivos da iniciativa privada a migrar para o Estado. "Há diferenças de cultura que demandam um trabalho imediato de treinamento após a contratação. Além disso, os salários do setor público são menores", ilustra. A consultoria tem como modelo a experiência da KPMG de Londres, que caça talentos para o governo desde 2000, para o médio e o alto escalão. "Esse recrutamento é mais detalhado e demanda mais horas de trabalho da consultoria", diz Lage. "São necessários cinco passos para chegar a uma decisão que a iniciativa privada tomaria com apenas um", exemplifica. As diferenças, entretanto, podem gerar vantagens. "É um caminho para o governo captar administradores capazes de verificar estratégias de gestão e chegar a soluções no curto prazo. A iniciativa privada é acostumada a matar um leão por dia", ressalta. Próximo Texto: Custos são possíveis obstáculos Índice |
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