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São Paulo, domingo, 12 de outubro de 2003

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CARREIRA

Antes de optar por PDV e deixar o emprego, profissional deve saber o que fará com o dinheiro

Demissão voluntária exige cautela e estudo

BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Anunciada a necessidade de fazer cortes, a empresa acena com a possibilidade de um PDV (Programa de Demissão Voluntária).
A mecânica é aparentemente simples: para eliminar excedentes de pessoal sem os tradicionais inconvenientes da demissão, a companhia oferece benefícios e vantagens aos funcionários que se dispuserem a deixar o emprego.
Alessandra Santos Fernandes, 29, aceitou a proposta da Telefônica. Hoje, dois anos depois, diz que está arrependida. Oscar Henrique Caminha de Siqueira, 45, fez o mesmo: deixou o Santander Banespa -mas afirma ter feito "o melhor negócio" de sua vida.
Na hora da decisão, o planejamento faz toda a diferença, dizem advogados e consultores. "Só vale a pena quando você tem a condição de ser empregável ou tem um projeto, pessoal ou profissional, já bem avaliado", ensina José Augusto Minarelli, presidente da Lens & Minarelli Associados, consultoria de recolocação.
Trocar de profissão, mudar de cidade, comprar um imóvel, abrir um negócio ou criar perspectivas de desenvolvimento da carreira são alguns dos projetos possíveis. "É uma chance inesperada de colocar a mão em uma boa quantidade de dinheiro. Mas é preciso cautela para não se lançar em uma aventura", afirma ele.
Analisar o pacote de vantagens oferecidas e compará-lo com os benefícios que seriam recebidos na demissão tradicional é o primeiro ponto essencial. Em seguida, o profissional deve avaliar o seu momento de carreira e as opções existentes no mercado.
"É uma oportunidade de fazer uma grande transformação na vida e na carreira. É um processo bastante corajoso, mas que possibilita uma mudança mais segura", ressalta a consultora Elaine Saad, da Right Saad Fellipelli.
"O importante é ter planos já avaliados para o dinheiro, e não só uma idéia preconcebida", diz o advogado trabalhista e previdenciário Antonio Vieira. Um dos obstáculos é o pouco tempo: em geral, os prazos para adesão não passam de 30 dias. O conselho dos consultores é ter sempre uma carta na manga -um plano de negócios montado, por exemplo.
Entre os incentivos oferecidos, geralmente estão o recebimento das verbas rescisórias como se ocorresse demissão sem justa causa, bônus em dinheiro proporcional ao tempo de empresa e cursos de recolocação. Também é comum prolongar a vigência de plano de saúde e de benefícios como a entrega de cestas básicas.

"Empregão"
"Perdi um "empregão". Fui atrás de todas aquelas vantagens e não estou satisfeita", revela Alessandra Fernandes. "Estou desempregada, dando aulas particulares e fazendo trabalhos de decoração."
Ela era secretária de diretoria e trabalhava havia cinco anos na Telefônica. Tinha bom relacionamento com o chefe e havia sido promovida duas vezes. "Acho que não tive visão de futuro. Eu teria crescido muito lá dentro", avalia.
Já Oscar Henrique de Siqueira, que deixou o "estresse" do cargo de gerente-geral de agência bancária para abrir uma franquia da escola de idiomas Centro Cultural Americano, diz ser um exemplo para quem tem medo de mudar de profissão. "Não sei falar inglês, espanhol nem francês. Nada. Mas achei um negócio em que faço o que mais sei: cuidar dos clientes."
O analista de sistemas Reinaldo da Silva Prado, 55, não teve a mesma sorte. Saiu da IBM em um PDV e apostou suas fichas em uma franquia de fast food com outros seis sócios -quatro deles ex-colegas da empresa. "Ninguém tinha experiência na área, e o restaurante começou a ir mal. Diria que perdi 100% [da verba recebida com o PDV]." Atualmente, de volta ao seu ramo, tem uma empresa de informática.
Luiz Carlos Castilho, 49, que deixou o setor bancário em um PDV há pouco mais de dois anos, ainda está procurando emprego. "A idade pesa", diz. "Eu sabia que seria difícil arrumar outro emprego, mas achava que ficaria só seis meses fora do mercado."



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