São Paulo, domingo, 13 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ENTREVISTA: MICHAEL LEITER

'Os indivíduos devem pensar no que a carreira significa; muitos trabalham sem refletir no que estão fazendo'

Sobrecarga e conflitos de valor levam a 'burnout'

O grau máximo de estresse profissional, conhecido como "burnout", pode ser evitado se a pessoa realiza atividades que não estão relacionadas ao trabalho, segundo o psicólogo organizacional Michael Leiter.
Professor da Universidade Acadia, no Canadá, Leiter esteve no Brasil como palestrante do Congresso de Stress da Isma-BR, que aconteceu no final de junho, em Porto Alegre (RS). Leia, a seguir, trechos da entrevista exclusiva concedida à Folha, por telefone.
(MARIA CAROLINA NOMURA)

 

FOLHA - Quais são as principais causas do "burnout"?
MICHAEL LEITER
- Há seis fatores que contribuem para esse estresse: 1) a carga de trabalho pesada; 2) o quanto de controle você tem sobre o trabalho -se realmente a sua atuação é da forma como considera ser melhor ou se você tem liberdade para agir da forma que acha correta; 3) o reconhecimento -se o gerente está atento ao que você está fazendo e demonstra que esse trabalho é importante; 4) o senso de comunidade -se o relacionamento com os colegas é bom ou se você vivencia situações de conflito e discordância; 5) o senso de justiça -se você está sendo tratado como os seus pares ou se há algum tipo de discriminação; e 6) os conflitos de valor, que ocorrem quando você não concorda com os princípios do chefe ou da firma.

FOLHA - Mas quais são as causas mais comuns?
LEITER
- Há duas: a primeira é ter muito trabalho para realizar em pouco tempo, quando as pessoas ficam cronicamente exaustas não apenas em um, mas em todos os dias de trabalho. Outro problema pode existir quando as pessoas não têm o pessoal ou os recursos necessários para realizar aquela tarefa. A segunda ocorre quando as pessoas não acreditam na importância do trabalho que realizam ou têm grandes desavenças com o chefe ou o empregador sobre o que de fato é necessário para se fazer no trabalho.

FOLHA - Existe algum trabalho que seja livre desse estresse?
LEITER
- Não. Ele pode acontecer em qualquer profissão. Mas trabalhos mais intensos e complexos que requerem muita concentração são mais vulneráveis ao "burnout". Só que as pessoas que acreditam no que fazem tendem a agüentar uma grande carga de trabalho e, como estão muito envolvidas e muito apaixonadas por determinada atividade, não chegam a esse nível de estresse.

FOLHA - Quais são as conseqüências do "burnout" para as empresas e para as pessoas?
LEITER
- Para os trabalhadores, as conseqüências são problemas de saúde. Se estão cronicamente exaustos, ficam mais vulneráveis a doenças. O "burnout" desencadeia também a insônia: a pessoa fica com problemas para dormir porque está preocupada com o trabalho. Para o empregador, a produtividade do funcionário cai e há prejuízos com o absenteísmo. As companhias também gastam mais dinheiro recrutando outras pessoas.

FOLHA - O que as empresas podem fazer para prevenir esse estresse?
LEITER
- As companhias devem organizar o trabalho da maneira mais eficiente para que as pessoas não fiquem sobrecarregadas. Ter programas de saúde também ajuda. Mas o empregador deve prestar uma atenção especial aos valores nos quais o funcionário acredita e expor, claramente, os princípios e as visões da empresa.

FOLHA - E para os trabalhadores?
LEITER
- Ter atividades nas quais não pensem no trabalho, como praticar um esporte ou estudar música. Pessoas que têm família experimentam menos "burnout" do que outras porque elas têm de prestar atenção aos filhos, e isso é muito importante. As crianças pedem atenção e requerem muita energia. E não se trata apenas do nível de energia, mas como você a deposita naquilo com que se preocupa.

FOLHA - O "burnout" é um conceito da modernidade ou ele sempre existiu?
LEITER
- Acho que ele sempre esteve presente, mas a sofisticação da educação e a tecnologia agravaram o estresse porque, atualmente, é mais difícil desligar-se do trabalho por causa dos telefones celulares e dos computadores portáteis.

FOLHA - Como encontrar o meio- termo entre trabalho e vida pessoal?
LEITER
- Os indivíduos devem pensar mais em si mesmos e no que a sua carreira realmente significa. Acho que as pessoas vão ao trabalho sem refletir no que estão fazendo com suas vidas, para onde estão indo.


Texto Anterior: Por que ler isso
Próximo Texto: Sem estresse: Veja algumas dicas para espantar o "burnout"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.