São Paulo, domingo, 14 de março de 2004

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NO DIVÃ

Cresce número de operadores com depressão, segundo pesquisa da USP e sindicato da classe

Telemarketing enfrenta crise de saúde

Roberto Assunção/Folha Imagem
A empresa SPCOM afirma ter projetado seu call center com divisórias mais baixas para que os operadores não se sentissem tão oprimidos


SILVIA BASILIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Depressão e estresse são sintomas que se apresentam cada vez com mais freqüência em operadores de telemarketing, segundo aponta o Sintratel, sindicato da categoria em São Paulo.
Forte cobrança dos supervisores para o alcance de metas, atitudes grosseiras do público, repetições à exaustão do mesmo "script" para vender produtos e serviços e, por vezes, brincadeiras desagradáveis da chefia compõem a rotina desses profissionais, que somam 500 mil, segundo estimativa da ABT (Associação Brasileira de Telemarketing).
A indicação do sindicato é respaldada por números de pesquisa qualitativa que serviu de base para a dissertação de mestrado da fisioterapeuta Carla Oda, 35, da USP (Universidade de São Paulo).
Dos 34 operadores entrevistados, 28 (82%) manifestaram sintomas de estresse, como ansiedade, depressão, angústia, isolamento social e dores musculares (pescoço e ombros), de cabeça e de estômago.
Para a pesquisadora, as dores estão relacionadas a um somatório de fatores, como a falta de mobiliário adequado, o ambiente estressante, a pressão a que são submetidos os operadores, a cobrança de produtividade e a padronização de comunicação e de comportamento. "Há pouca autonomia no trabalho. Os operadores quase não têm espaço para usar a criatividade."
"Eu tinha depressão e, diariamente, sentia dores de cabeça", recorda Arlete Sandra Maielle, 31, que atuou durante dois anos e meio em uma empresa de telemarketing. Na avaliação dela, a coação para o alcance das metas e a falta de autonomia no trabalho desencadearam o quadro. "Eu me sentia uma máquina. Não podia sair do padrão", diz Maielle.
Nas empresas
Algumas companhias reconhecem os riscos de danos à saúde em razão da natureza do trabalho e buscam soluções. "São funções em que a pessoa fica muito tempo na mesma posição e em que há um forte monitoramento", afirma Sandra Teragi, 37, diretora do call center da SPCOM.
Para tentar reduzir o problema, a empresa inseriu no ambiente de trabalho uma horta, uma quadra poliesportiva e oficinas de arte. "Problemas médicos, atrasos e faltas caíram 60% entre os que freqüentaram as aulas de arte."
Na Softway, os "scripts" são mais flexíveis e discutidos previamente com a equipe. "Nunca tolhemos a criatividade da pessoa", diz Icione Braga, 36, superintendente da unidade de Jundiaí, que tem psicólogos de plantão. Segundo ela, apenas 2% dos atendimentos estão relacionados ao estresse.
Embora reconheça os esforços, o Sintratel acredita que o caminho mais eficaz para driblar danos psicológicos seja a flexibilização do sistema de metas e da jornada de trabalho no telemarketing.



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