São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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PORTUGUÊS FLUENTE

Profissional não fala a língua do mercado

Fernando Moraes/Folha Imagem
O corretor de seguros Ricardo Tomo, 40, que teve de recorrer a aulas específicas de língua portuguesa para tentar melhorar sua comunicação por escrito


RENATO ESSENFELDER
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quantas línguas você fala? Essa pergunta, tão comum em entrevistas de emprego, costuma causar calafrios na maioria dos candidatos. Não mais satisfeitos com o domínio de um único idioma estrangeiro (geralmente, o inglês ou o espanhol), empregadores já exigem um terceiro. Antes de sair correndo para aprender francês, alemão ou italiano, contudo, certifique-se de que você fala bem a sua "primeira língua" -no caso dos brasileiros, o português.
Pode parecer bobagem, afinal, todo brasileiro domina o português, certo? A princípio, sim. Mas, em uma ocasião formal, que exige o uso da norma culta da língua, a situação muda bastante de figura.
"O bom português, que antes era uma obrigação, hoje é visto até como um diferencial curricular", avalia Carlos Henrique Mencaci, diretor administrativo do Nube (Núcleo Brasileiro de Estágios).
No processo seletivo organizado pela empresa, o fraco domínio da própria língua é o principal fator de eliminação de candidatos. "O português é determinante, porque as informações precisam ser transmitidas por meio de uma comunicação clara e objetiva."
Os jovens têm mais problemas com o idioma materno do que os mais velhos. Essa é a conclusão, baseada na experiência de recrutamento, do consultor Norival Mantovani, da Power Land Recursos Humanos. "De modo geral, os jovens estão contaminados por vícios de linguagem. Empresas que primam pela qualidade nem sempre aceitam isso."
O professor de língua portuguesa da Uninove, Sérgio Simões, constata que há deficiências na formação dos jovens. "Algumas falhas são comprometedoras, decorrentes da falta de leitura e de prática da língua."

Falar bem, pensar melhor
Mais do que evitar situações consideradas constrangedoras, como ter um erro corrigido pelo próprio chefe ou pelo entrevistador, dominar o idioma ajuda a pensar e a resolver problemas.
"Geralmente, quem escreve e fala bem apresenta pensamento sistematizado, pois o ato de escrever e o de falar exigem raciocínio lógico, reflexão, elaboração e planejamento", explica Simões.
"Na base de tudo está a linguagem. Sem dominá-la, fica difícil aprender outras coisas", completa Frederico Eigenheer, consultor da Eigenheer Recursos Humanos.
Por isso, diz ele, as empresas procuram profissionais que se expressem claramente -é sinal de que aprenderão novos ofícios rapidamente. Nesses casos, a coerência verbal é sinônimo de uma capacidade de raciocínio claro.


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