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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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"PEGADINHA" PROFISSIONAL

Fernando Moraes/Folha Imagem
Candidatos em "seleção-pegadinha"; ganha pontos quem raciocina rápido, mas com simplicidade


Empresas usam "enigmas" para contratar

RENATO ESSENFELDER
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Imagine a situação. Você está na ante-sala de uma grande organização multinacional. À sua frente, um executivo engravatado se ajeita sobre a cadeira, olha atentamente para você e pergunta, sem rodeios: "Como colocar um elefante na geladeira?".
A cena parece mesmo absurda, mas nem é tanto. Trata-se de uma entrevista de emprego -com direito a pré-seleção e triagem, análise de currículo e checagem de antecedentes profissionais. A diferença é que nessa seleção não bastam os métodos tradicionais de "investigação" dos candidatos.
Os defensores das chamadas "pegadinhas" (leia exemplos no quadro ao lado) afirmam que elas são muito úteis para se conhecer a "verdadeira pessoa" por trás do estereótipo de "candidato ideal".
"É uma ferramenta válida, ajuda a "soltar" o candidato e a delinear seu perfil comportamental", argumenta João Schlickmann Neto, diretor administrativo e financeiro da Apsen Farmacêutica.
Segundo ele, boa parte dos 394 funcionários da empresa já passaram por "testes alternativos". Por exemplo: planejar um assalto a banco em 20 minutos. No meio do exercício, o entrevistador muda as regras do jogo, informando sobre a existência de câmeras, policiais e vigias inesperados.
"As pessoas estranham -ainda mais por usarmos um assalto a banco para medir planejamento estratégico e capacidade de adaptação. Mas funciona", diz Neto.

Brincadeira séria?
O aluno de informática Henrique Elton de Souza, 24, diz que não seria surpreendido em uma seleção por uma enquete desse nível. Pelo contrário, até se sentiria "em casa". "Nas aulas de lógica, o professor perguntava essas coisas também. Parecem bobas, mas as questões têm fundamento."
Partilhando dessa crença, a consultoria de recursos humanos Adecco -pela qual 80 mil trabalhadores passaram em 2002 no país- aplica "pegadinhas".
Na agência, esses testes são eliminatórios. "O peso é igual ao de questões técnicas", compara a gerente regional Adriana Andrade. Ou seja, saber se sair bem de uma pergunta capciosa é tão importante quanto ser bom de cálculo para ter vaga na área financeira.
Nem todos são fãs do sistema, contudo. "Eu diria que metade usa e que a outra metade condena", calcula Schlickmann Neto.
Para os críticos, não faltam argumentos (leia na pág. 3). "São perguntas sem pé nem cabeça que não provam nada. Não é científico", opina o vice-presidente do Grupo Foco, João Canada Filho.
Agora a resposta apontada como a mais "lógica" para a pergunta do início: "Para pôr o elefante na geladeira, abra a porta".


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