São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

Próximo Texto | Índice

SOBREVIVA AO PRIMEIRO DIA

Novo funcionário deve reconhecer o terreno, e não preocupar-se em mostrar resultados

Estréia no trabalho pede economia de opiniões

VALÉRIA LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Medo de não conquistar a simpatia da equipe? De perguntar demais ou fazer algo errado? De se sentir deslocado? De ser esquecido na recepção? Todas essas dúvidas são para lá de legítimas quando se trata do primeiro dia de trabalho em uma nova empresa. Afinal, poucos sabem qual é a melhor forma de agir nessa ocasião.
Hoje consultora de etiqueta empresarial, Célia Leão conta uma experiência desastrosa da época em que era bibliotecária. "Não gostei do local em que ia trabalhar e pedi transferência. Mas não sabia que estava falando justamente com a diretora do departamento." Daí diz ter tirado a maior das lições no que diz respeito à forma de agir no ""dia D": "Nunca emita opiniões e evite falar demais. O peixe morre pela boca".
Se a gerente de seguros Daniela Ferracini, 30, tivesse ouvido tal dica antes do seu primeiro atendimento, teria evitado dores de cabeça. "Quis ser eficiente e fui atender sozinha a um segurado. Ele queria saber o que significava "remissão por morte". Por dedução, disse que, se ele falecesse, sua família não teria direito ao seguro."
Depois de dispensá-lo, ela descobriu que o termo significava o contrário. "Me precipitei. Por sorte, consegui localizá-lo por telegrama e desfiz o mal-entendido."

Ouça muito, fale pouco
Para o consultor empresarial Marcelo Mariaca, querer mostrar serviço é uma atitude que não funciona nessa fase de integração. "O novo funcionário deve tentar entender a dinâmica da organização. O período inicial tem mais a ver com reconhecimento do terreno do que com resultados."
Sua receita para não dar gafes ou passar por constrangimentos tem como ingredientes básicos a discrição, a observação e a atenção. "Avalie a organização, tente definir se há problemas a serem resolvidos, não pergunte à toa. Demonstre simpatia, educação e interesse. É o suficiente para dar uma boa primeira impressão."

Tratamento VIP
Se, por um lado, os recém-chegados são vítimas do próprio comportamento, por outro, as empresas e os colegas mais antigos também têm sua parcela de "culpa". Tanto isso é verdade que um profissional do ramo de telefonia, que seria acompanhado pela reportagem da Folha em seu primeiro dia, soube na noite anterior que a data seria remarcada.
Na opinião de Laís Passarelli, sócia da Passarelli Consultores, a falta de atenção com quem está começando é imperdoável. "É desestimulante não ter a devida orientação. Quem está chegando tem de ser tratado como visita."
Luciana Misura, 26, passou por experiência semelhante. Ela, que mora em Detroit (EUA), foi contratada por uma agência para ser gerente de projetos ligados à internet. "Esperei por alguém de RH na recepção por uma hora. Foi quando descobri que, apesar de terem me passado aquela data, meu início oficial estava marcado só para a semana seguinte."
O "probleminha" de comunicação entre o chefe de Misura e o RH resultou em um primeiro dia complicado. "Foi um caos, eu não tinha telefone nem computador."
Para evitar esse tipo de transtorno, a Avon, por exemplo, adota o esquema de padrinhos. "Cada pessoa que entra tem alguém designado para tomar conta dela. Essa pessoa providencia o espaço físico e cuida de detalhes como mesa, computador, senhas", diz Carla Marques, gerente de desenvolvimento organizacional.


Próximo Texto: Na prática: Aceitação da equipe gera insegurança
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.