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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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PRÉ-MBA, PÓS-MBA

Novos cursos de pós focam perfis específicos e separam gestores experientes de recém-formados

Crescem opções para novatos e veteranos

Fernando Moraes/Folha Imagem
Silvio Maemura, da HP Brasil, fez seu "pós-MBA" nos EUA por não encontrar curso similar no Brasil


JULIANA DORETTO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Na mesma classe, o presidente de uma empresa senta-se ao lado de um trainee ainda pouco experiente. Apesar de estudarem juntos, cada um tem expectativas e demandas de aprendizado diferentes e, por isso, tendem a ser colegas de classe "incompatíveis".
O cenário, contudo, é real em diversos cursos de MBA (Master in Business Administration), já que o único ponto geralmente comum entre diretores e trainees é que ambos querem fortalecer o currículo com a sigla. Cientes da disparidade, escolas de negócio agora incluem entre os certificados oferecidos os que funcionam como espécies de "pré-MBAs" (para gestores iniciantes) e "pós-MBAs" (para os mais veteranos).
As novas modalidades de estudo compreendem cursos de pós-graduação generalistas. "Os MBAs viraram commodities no Brasil: ao serem exigidos para empregabilidade, proliferaram e perderam o espírito de mestrado estratégico, voltado para pessoas com experiência", analisa Paulo Tarso Rezende, 39, diretor-acadêmico do Ibmec de Minas Gerais.
Segundo ele, o mercado exige do inexperiente um certificado de pós-graduação, e não um MBA.
Seguindo essa linha, a instituição lançou neste ano a PGN (Pós-Graduação em Negócios), destinada a recém-formados. O curso é voltado à formação para o mercado de trabalho. Cerca de 20% dos créditos podem ser aproveitados para o MBA da escola.
Escolas como a ESPM -do Rio de Janeiro e de São Paulo-, o Ibmec do Rio, a Business School São Paulo e a Fundação Getulio Vargas de São Paulo também oferecem cursos para profissionais sem muita experiência. O objetivo é a capacitação para funções gerenciais (veja quadro na pág. 3).
A FGV Management, por exemplo, criou o FGV Executivo Jr., curso que pode ser ministrado em até 37 cidades por meio de transmissão de dados via satélite.
Para o diretor-geral do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), João Carlos Ferraz, 49, por trás dos objetivos acadêmicos há uma preocupação das escolas em não perder alunos com o aumento da concorrência. "O mercado foi inundado por cursos de MBA, que se tornou uma marca de fantasia, sem correspondência com sua origem americana, de mestrado "stricto sensu". Com isso, as escolas começam a definir segmentos para tentar se diferenciar. É uma estratégia de marketing."
Cláudio de Moura Castro, 64, economista e presidente do conselho consultivo da Faculdade Pitágoras, discorda. "São cursos que prestam atenção em seus alunos. Por que a pessoa de 30 anos tem de ter o mesmo curso daquela de 18? São perfis diferentes", avalia.
Em São Paulo, o Ibmec oferece, desde 2002, o CBA (Certificate in Business Administration), nos mesmos moldes de sua PGN, mas com duas áreas de concentração: gestão de negócios e de finanças. "O aluno troca anos de experiência pelo CBA. Fazemos uma espécie de simulador de vôo com ele", afirma VanDyck Silveira, 30, coordenador do curso. Entre os alunos, as mulheres ocupam 40% das cadeiras -fato raro nas classes de educação executiva.

Básico do básico
A arquiteta Fernanda Dabbur, 30, é uma dessas alunas. Por administrar seu próprio escritório, ela diz que sentiu necessidade de saber mais sobre gestão e finanças, mas nem cogitou fazer um MBA. "Eu nem sabia usar a calculadora científica. Tive de pegar um livro para entender", conta.
Agora, mais habituada a cálculos e a teorias administrativas, Dabbur, que concluirá o curso em julho, afirma que já pensa em fazer MBA, mas não logo após o CBA. "Se fizesse agora, repetiria muito do que já aprendi. Ele pode servir melhor como uma atualização daqui a alguns anos", diz.
Marcos Rodrigo Silva, 29, gerente de produtos da Telefônica Empresas, já tem experiência em decisões estratégicas, mas optou por fazer um curso mais básico para poder cursar o MBA Gestão Empresarial da FIA (Fundação Instituto de Administração). O MBA é uma complementação destinada a quem já fez o curso de especialização chamado Capacitação Gerencial, que dura um ano e meio: o aluno estuda mais seis meses e obtém os dois títulos.
"No início, achei que iria repetir muita coisa, mas vi que os conceitos vão evoluindo. Encaro o curso Capacitação Gerencial como um tempo de maturação para o MBA: assim reciclo conhecimentos e já tenho contato com os futuros colegas do MBA", pondera Silva.
Formado em engenharia, ele fez vários cursos rápidos de especialização antes de entrar na FIA.



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