São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004

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O PODER DA CRÍTICA

Enquete revela que 70% dos funcionários obtêm retorno predominantemente negativo

Tom do comentário define sua eficiência

Fernando Moraes/Folha Imagem
Sabina Donadelli está estudando etiqueta para aprender a elaborar críticas de forma adequada


TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma alavanca para impulsionar a carreira na direção certa. Ou uma marreta que "esmaga" o profissional, fazendo-o se sentir incapaz. As imagens ilustram papéis opostos que críticas feitas no trabalho podem assumir.
A diferença entre as duas é construída pelo fator "como". Segundo especialistas, a análise do desempenho de um colaborador pode se converter tanto em um retorno relevante quanto em uma queixa arrogante e improdutiva, dependendo apenas da maneira como os fatos são colocados.
Há dois anos, o corretor de imóveis Rubens Gabanela, 40, levou uma "dura" do chefe, Feliciano Giachetta, 49, sócio-diretor da FGI Negócios Imobiliários. O superior reclamou que ele era ansioso demais nos primeiros contatos com os clientes, levando-os a assinar propostas de compra que nunca geravam negócios de fato.
"Chamei-o e disse-lhe que parasse de brincadeira", conta Giachetta, que admite ter sido "muito firme" na colocação. Gabanela diz ter se sentido "jogado para baixo" com o comentário. Mas, a médio prazo, o saldo foi positivo.
"Tomei aquela crítica como um desafio e decidi provar que poderia reverter meu desempenho", relata o corretor. "Conversei com outros funcionários para aprender a melhor maneira de abordar os clientes e, em um mês, estava fazendo tudo diferente", lembra.
A "virada" não passou despercebida. "Ele se corrigiu mesmo e hoje é um dos melhores da empresa", reconhece o chefe.
O consultor Sérgio Becker, 52, da Becker Motivação e Mudança, tem monitorado a qualidade do "feedback" recebido por funcionários que participam de suas palestras. De 65 mil entrevistados 70% declararam obter, no trabalho, retornos predominantemente negativos, segundo conta ele.
"As empresas precisam se empenhar em mudar essa equação. O resultado não pode ser sempre ruim", completa o especialista.
A vice-presidente-executiva do Grupo Catho, Silvana Case, não aprecia o termo "crítica construtiva", mas reconhece o poder da ferramenta quando a intenção é melhorar desempenhos ruins. "Para funcionar, é preciso conteúdo, lógica e pouca emoção."
Em busca dessa fórmula, a economista Sabina Donadelli, 33, está estudando etiqueta a fim de aprender a maneira certa de criticar. É que, durante os anos em que trabalhou na grife de sapatos da família, levou um "puxão de orelha" do pai, líder da firma, que a achava "palpiteira demais".
"Ele apontou que meu senso crítico era aguçado, mas a forma como eu expunha minhas opiniões era desatenciosa", conta ela, que hoje investe na carreira de consultora de empresas.


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