São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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"NÃO ACEITO"

Profissionais recusam vaga "inferior"

Anna Carolina Negri/ Folha Imagem
Andréa Lodi montou firma


Desempregados adotam a estratégia do "antes em casa do que em um trabalho mal pago"

MARIANA BERGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

Aproximadamente 1 em cada 10 brasileiros está hoje desempregado, segundo o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apesar de a estatística oficial ser alarmante, é curioso notar que, desse contingente de pessoas sem ocupação, uma parte simplesmente optou por ficar fora do mercado de trabalho.
Ainda que pareça ilógica à primeira vista, a decisão, dizem esses profissionais, é planejada em detalhes: muitos preferem abrir mão de uma oferta de emprego por acreditar que merecem oportunidades melhores -como remuneração e cargo.
A turismóloga Ana Cristina de Freitas Borges Monteiro, 37, passou por uma situação assim. Após dois anos atuando como supervisora na central de atendimento de um banco, em que recebia R$ 1.800, foi desligada do cargo. Nos dez meses em que ficou desempregada, recusou quatro ofertas de trabalho.
"Os salários eram mais baixos [do que o anterior], e as responsabilidades eram ainda maiores", lembra Monteiro, que precisou se adaptar a uma nova realidade, reduzindo gastos com passeios e compras.
"Foi um período difícil, mas pude me dar ao luxo de recusar os trabalhos porque morava com os meus pais e não havia contraído dívidas", conta.
Determinada a não aceitar ofertas que considerasse ina-dequadas, a turismóloga lembra que ficava desanimada com as entrevistas de emprego. "Minha auto-estima foi lá embaixo, mas resolvi pagar esse preço para ter uma perspectiva profissional melhor", afirma.
Para ela, a insistência valeu a pena: foi contratada pela Sony Eletronics e hoje é gerente de atendimento e relacionamento da empresa em Miami, onde recebe US$ 70 mil por ano.
"Estou extremamente satisfeita com a vida profissional e teria a mesma atitude se ficasse desempregada outra vez", diz.
As recusas de trabalhos com salários inferiores ocorrem sobretudo entre profissionais de 35 a 45 anos, segundo Robert Wong, da consultoria P&L. "Hoje, as pessoas estão se indagando sobre sua vocação e prestando mais atenção à voz interior", justifica o consultor. "Não há mais a visão de se sacrificar pelo trabalho, como na geração anterior", conclui.


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