São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 1998

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OSSOS DO OFÍCIO

Papai-noel encara 800 crianças num dia

da Reportagem Local

Sorriso no rosto, cara de "bonzinho" e muita paciência para lidar com crianças. Essas são algumas das características necessárias para quem trabalha como papai-noel. Mesmo sendo um trabalho sazonal, que acontece apenas no final do ano, o papel de Bom Velhinho não é para qualquer um.
O aposentado Antonio Firmino, 53, atua como papai-noel há seis anos e diz que "adora". "Não é uma função difícil, mas é preciso gostar muito para ser divertido."
Apesar de trabalhar apenas meio período, ele conta que costuma acordar cedo para cuidar de algumas coisas em casa e dar um jeito na roupa e na barba de papai-noel, antes de ir para o trabalho.
Contratado para trabalhar no shopping Internacional, em Guarulhos, ele vai de carro para não correr o risco de chegar atrasado. "Sempre chego antes para poder fazer tudo com calma", afirma.
Seu expediente começa às 10h, mas o "ritual" para vestir a roupa, fazer a maquiagem e colocar a barba e o bigode exige tempo.
"Demoro, pelo menos, 40 minutos. O mais difícil é a maquiagem porque não pode ter falha."
Às 9h50, ele sai do vestiário do shopping já pronto para assumir o personagem que vai sorrir e conversar com cerca de 800 crianças.
O trabalho, segundo ele, não é complicado. Sua função, além de conversar com todas as crianças e pessoas adultas que querem atenção, é posar para fotos.
Firmino diz que nem só as crianças fazem pedidos. "Muitos adultos e idosos querem chegar perto para pedir alguma coisa."
Ele conta que a emoção que a época de Natal desperta nas pessoas faz com que muitas percam a vergonha e realizem alguns desejos, o que causa situações inusitadas. "Já tive de prometer presente para adulto e tirar foto com pessoas idosas sentadas no meu colo."
Mas ele não reclama. Para Firmino, "tudo é divertido". E trabalhar com algo que envolve tanta emoção é "gratificante", embora, às vezes, a emoção da criança seja diferente da dele.
"Mãe, ele é monstro! " Frases assim não escapam do seu dia-a-dia. Segundo ele, sempre há crianças que ficam assustadas quando vêem o papai-noel ao vivo.
"Uma coisa é ver a imagem pela TV, outra coisa é ver de perto, pegar na mão e escutar ele dizer "ho, ho, ho'", diz Firmino.
Ele conta que uma das situações mais engraçadas ocorre quando as crianças começam a perguntar por que ele bebe água de canudinho.
Se é complicado para as crianças, para Firmino é muito simples. "Não tenho como beber água sem usar o canudinho. Com o copo molho a barba, o bigode, a roupa, tudo."
A maior parte do tempo, Firmino fica sentado. Em quatro horas de trabalho, passam pelo seu colo cerca de 500 crianças, algumas vendo o "velhinho de roupa vermelha" pela primeira vez. "Quando isso acontece, dá para perceber. Os olhos brilham muito e ficam arregalados de tanta curiosidade."
Depois de passar quatro horas posando para fotos e ouvindo pedidos, Firmino faz uma pausa rápida para poder ir até o banheiro tirar a barba e o gorro.
"Jamais poderia fazer isso em público. Isso quebraria o encanto da criançada", explica.

Mãozinhas
Depois de descansar por dez minutos, Firmino volta para o seu posto de trabalho, seguido por várias crianças, que disputam um espaço para pegar em sua mão.
Ele mantém o sorriso no rosto e não esquece uma mãozinha sequer. "Há criança que pega de "levinho', outras seguram forte e não largam de jeito nenhum."
Até chegar novamente à sua cadeira, Firmino tem de pegar muito bebê no colo e dizer "olá".
Às 16h, quando acaba o expediente, Firmino ainda tem de brincar com a fila de crianças que vai seguindo o papai-noel até o vestiário. Mas, depois que sai de lá trajando roupas normais, ele passa despercebido e pode ir embora sem ser abordado por ninguém.
"Nessa hora, só os seguranças e as pessoas que trabalham na portaria me cumprimentam", diz.



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