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São Paulo, domingo, 23 de março de 2003

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CARREIRA EM PÉ DE GUERRA

"Efeito Iraque" muda rumos profissionais

Fernando Moraes/Folha Imagem
Rodrigo Toledo perdeu chance de ir a seminário internacional


RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um clima de paralisia paira no mercado de trabalho, que, como todos os outros setores da economia, aguarda os desdobramentos finais da guerra do Iraque.
Nem todos admitem, mas o fato é que a tensão gerada pelo conflito produz uma série de efeitos (geralmente negativos) no mercado. O publicitário Rodrigo Toledo, 27, por exemplo, acaba de perder uma oportunidade na carreira.
Supervisor regional de contas do Grupo Lowe, que reúne 92 agências no mundo, Toledo havia sido escolhido para representar a América Latina no seminário anual do grupo, em Bancoc, na Tailândia, marcado para o período entre 31 de março e 4 de abril.
Sua viagem acabou cancelada, por questão de segurança. "É pena, porque era um evento importante. Eu faria uma apresentação sobre o desempenho da empresa na América Latina", lamenta.
A agente de passagens A.S.G., que não quis se identificar, acaba de ser demitida de uma empresa aérea americana com filial no Brasil. "A situação já vinha se deteriorando desde os ataques terroristas de 11 de setembro [nos EUA], e a tendência é só piorar", afirma. "Quem não precisa, mesmo, não vai viajar." A.S.G. conta que decidiu procurar emprego agora em um outro ramo de atuação.
Até a "indústria do futebol" foi afetada. O Campeonato Mundial sub-20, que aconteceria de 25 de março a 16 de abril, nos Emirados Árabes Unidos, foi cancelado.
A seleção adulta, que negociava um jogo amistoso com um selecionado árabe, no Bahrein, no golfo Pérsico, suspendeu as conversações. O Brasil, normalmente, recebe US$ 800 mil por amistoso. "O mercado de transferências de jogadores ao exterior fica congelado, por enquanto", diz Rodrigo Paiva, assessor da Confederação Brasileira de Futebol.

Como agir
Os consultores aconselham os profissionais das diferentes áreas a serem cautelosos neste momento. Alguns planos, como viagens para cursos no exterior, por exemplo, terão de ser repensados.
"É melhor adiar. A tendência é o dólar se desvalorizar em relação ao euro. Para o real, que já está desvalorizado em relação ao dólar, vai aumentar a desvantagem", diz a sócia-diretora da Across Gestão de Carreiras, Regina Camargo. Para ela, se a guerra no Iraque for muito longa, os estragos serão grandes em todas as carreiras. Mesmo antes de os ataques começarem, "uma certa lentidão na tomada de decisões" já era sentida, segundo Camargo. "As empresas estão se esforçando para fazer economia."
Ricardo de Almeida Prado Xavier, presidente da Manager Assessoria em Recursos Humanos, diz acreditar que, se a guerra for curta, os profissionais devem fazer tudo o que planejaram, mas usando o bom senso. "Nos meses de março e abril, a maioria das empresas de sociedade anônima publica seus balanços. Eles são boa fonte para o profissional de alto escalão saber em que situação está o negócio do qual participa e decidir que atitudes tomar", diz.
"A constante análise com os pares ou com a direção da empresa também é aconselhável para a tomada de decisões, para sentir se é o momento adequado para viajar, pedir aumento ou mesmo para solicitar outras regalias", avalia.
Segundo Xavier, deve-se ter em mente que, em vez da inércia, a situação de crise moderada pode ser benéfica para investir na carreira e ultrapassar concorrentes.
Será um momento bem mais difícil, no entanto, para quem está desempregado. Alguns setores que podem crescer apesar da guerra ou por causa dela são alternativas para quem está procurando uma colocação.


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