São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 1999

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Experiência familiar revela vocação

da Redação

A professora de educação física Maria Cecilia Lara de Toledo, 36, nasceu na "cegolândia", como diz. Sua mãe perdeu totalmente a visão aos três anos de idade. Seu pai, que enxerga normalmente, trabalha há mais de 30 anos na fundação Dorina Nowill, em São Paulo, como estenotipista musical, transcrevendo partituras de música para o braile.
Não raro sua casa servia de ponto de encontro para os amigos da família, boa parte, como se deduz, composta por deficientes visuais. "Cresci com as pessoas me tocando no rosto para saber como era."
Provavelmente, afirma, sua vocação tenha surgido dessas situações, que caberiam no conto de H. G. Wells (1866-1946) sobre uma terra, fictícia, povoada por cegos.
Mas foi custoso descobrir a vocação. "No começo, tinha quase uma aversão. Ficava trancada no quarto quando as visitas chegavam. Na escola, ouvia perguntas do tipo "Sua mãe é cega? Cegos têm filhos?'"
Hoje Maria Cecilia diz ter facilidade de lidar com esse tipo de aluno. "Desde que comecei na faculdade, já pensava em trabalhar nessa área", conta. Ainda estudante, fez estágio com crianças portadoras de deficiência física. Depois de formada, ganhou uma bolsa em um curso específico para orientadores de deficientes visuais.
O pai achava que o envolvimento emocional que tivera desde criança com o problema poderia atrapalhar. A mãe a incentivou.
A professora diz ter acertado na escolha, apesar de revelar uma nítida insatisfação com a "falta de reconhecimento da sociedade".
"A atividade é pouco valorizada no país. Quando participo de congressos internacionais, percebo que isso não acontece lá fora."
Divorciada, mãe de uma menina de sete anos, Maria Cecilia recebe cerca de R$ 900 mensais por cinco horas diárias, à tarde, na fundação.
No período da manhã, ganha o mesmo valor para coordenar, por quatro horas, um centro educacional da Prefeitura de São Paulo (que não é dirigido a deficientes). (CM)



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