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Experiência familiar revela vocação
da Redação
A professora de educação física
Maria Cecilia Lara de Toledo, 36,
nasceu na "cegolândia", como diz.
Sua mãe perdeu totalmente a visão
aos três anos de idade. Seu pai, que
enxerga normalmente, trabalha há
mais de 30 anos na fundação Dorina Nowill, em São Paulo, como estenotipista musical, transcrevendo
partituras de música para o braile.
Não raro sua casa servia de ponto
de encontro para os amigos da família, boa parte, como se deduz,
composta por deficientes visuais.
"Cresci com as pessoas me tocando no rosto para saber como era."
Provavelmente, afirma, sua vocação tenha surgido dessas situações, que caberiam no conto de H.
G. Wells (1866-1946) sobre uma
terra, fictícia, povoada por cegos.
Mas foi custoso descobrir a vocação. "No começo, tinha quase uma
aversão. Ficava trancada no quarto
quando as visitas chegavam. Na escola, ouvia perguntas do tipo "Sua
mãe é cega? Cegos têm filhos?'"
Hoje Maria Cecilia diz ter facilidade de lidar com esse tipo de aluno. "Desde que comecei na faculdade, já pensava em trabalhar nessa área", conta. Ainda estudante,
fez estágio com crianças portadoras de deficiência física. Depois de
formada, ganhou uma bolsa em
um curso específico para orientadores de deficientes visuais.
O pai achava que o envolvimento
emocional que tivera desde criança com o problema poderia atrapalhar. A mãe a incentivou.
A professora diz ter acertado na
escolha, apesar de revelar uma nítida insatisfação com a "falta de reconhecimento da sociedade".
"A atividade é pouco valorizada
no país. Quando participo de congressos internacionais, percebo
que isso não acontece lá fora."
Divorciada, mãe de uma menina
de sete anos, Maria Cecilia recebe
cerca de R$ 900 mensais por cinco
horas diárias, à tarde, na fundação.
No período da manhã, ganha o
mesmo valor para coordenar, por
quatro horas, um centro educacional da Prefeitura de São Paulo (que
não é dirigido a deficientes).
(CM)
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