São Paulo, domingo, 26 de março de 2006

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SUA CARREIRA

Mesmo sem dinheiro, jovens valorizam suas qualificações com prêmios, monitorias e bolsas de estudo

Criatividade e iniciativa turbinam currículo

FRANCINE DE LORENZO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Que a experiência profissional é fator determinante para a conquista de uma vaga no mercado de trabalho ninguém discute. Muitos jovens, contudo, não têm um diversificado histórico profissional para destacar no currículo. Nesses casos, a saída, segundo os consultores de recursos humanos, é investir na própria formação, uma fórmula incontestável para galgar degraus na carreira.
Esse caminho, no entanto, nem sempre é fácil. Para muitos, faltam os recursos financeiros necessários para poder arcar com mensalidades e taxas de inscrição. Os profissionais que têm maior poder aquisitivo acabam levando vantagem sobre os demais na disputa por uma vaga de trabalho.
"É uma realidade. Quem tem mais recursos pode estudar nas melhores escolas, inclusive no exterior, realizar vários cursos de idioma e de extensão curricular. Isso é valorizado pelas empresas", afirma a gerente da consultoria de recursos humanos Gelre, Vera Modolo. "Já quem não tem o chamado "paitrocínio" muitas vezes se submete a qualquer tipo de emprego para bancar a faculdade."
Quem está em situação como essa, entretanto, não deve desanimar. Para os que têm iniciativa e força de vontade, não faltam meios econômicos para incrementar os conhecimentos e chamar a atenção do empregador (veja dicas no quadro ao lado).
"Em geral, os jovens carentes que batalham por oportunidades amadurecem mais rapidamente e as empresas vêem isso como um diferencial", acrescenta Modolo.
A falta de dinheiro no bolso não abalou a perseverança do desenhista industrial Bruno Ribeiro. Aos 18 anos, ele saiu de Barretos, no interior de São Paulo, e veio para a capital, após passar no vestibular de uma das universidades privadas mais disputadas do país.
"Solicitei uma bolsa de estudos e consegui 60% de desconto na mensalidade graças ao meu histórico escolar", afirma. As notas também foram importantes para a conquista de um estágio. "Um dos itens analisados pelos empregadores foi o histórico, que só depende do esforço individual. Ter boas notas sempre me ajudou", comemora o desenhista.
Filha de zelador, a administradora Renata Santos, 25, teve de suar a camisa para realizar o antigo sonho de estudar na Suécia: "Sempre freqüentei escola pública e não tinha o dinheiro para o intercâmbio. Mas tenho força de vontade e consegui uma bolsa integral de estudos", conta ela, que atualmente mora no país nórdico.
Exemplos como esses demonstram que, embora seja mais difícil, é possível incrementar o currículo sem gastar muito dinheiro. Consultores e empregadores ressaltam que alguns diferenciais dependem principalmente da força de vontade de cada pessoa.
O voluntariado é um deles. Na fabricante de cosméticos Natura, o processo seletivo considera não somente a formação acadêmica do candidato mas também a realização de trabalhos voluntários. "Acreditamos que vivências como essas propiciam aos jovens energia para questionar e propor soluções, buscar oportunidades de aprendizado, além de dinamismo e curiosidade", explica a gerente de recursos humanos da empresa, Andréa Vernacci.
Para o diretor do Centro Universitário Senac, Eduardo Ehlers, o mais importante é manter contato com o mercado de trabalho. "Há várias formas de obter essa vivência. Participar de programas de atendimento gratuito à população, de empresas juniores ou de concursos para jovens talentos são algumas delas", comenta.
Foi o que fez o gastrólogo Bruno Faro para encontrar a experiência que lhe faltava: participou de um concurso promovido por uma revista. "Apenas se preparar para um evento como esse, em que há concorrência com bons profissionais, já é um desafio profissional. Seu trabalho é avaliado por especialistas, e todos os seus conhecimentos, postos à prova", conta.


Colaborou a Redação


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