São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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VIGILÂNCIA VIRTUAL

Sensação de ser vigiado suscita temores

DA REPORTAGEM LOCAL
E DA REDAÇÃO

O episódio da General Motors dividiu a opinião de profissionais que têm acesso a internet e e-mail no trabalho. Se, por um lado, a idéia de ser "observado" incita temores e conduz a um estado de alerta, por outro lado julgam coerente o desestímulo ao uso impróprio dessas ferramentas.
O exagero no controle feito pela empresa pode levar à redução da disposição e da criatividade, segundo Waldir Bíscaro, 68, especialista em saúde mental no trabalho. "Acentua o medo, que é um dos sentimentos mais presentes nos funcionários de hoje", diz.
"Esse tipo de rastreamento é péssimo, pois restringe também a nossa liberdade. Ninguém é exclusivamente funcionário durante o expediente. Controlar os e-mails é mais ou menos como se implantassem uma escuta nos telefones", opina Adriana Amália do Nascimento, 33, bancária.

Limites
"A reação ao monitoramento está ligada à dinâmica adotada pela corporação, se autoritária ou democrática. Quando o regime já anula a autonomia, a "vigilância" pode gerar neuroses", comenta Odair Furtado, 51, professor do departamento de psicologia social da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Furtado lembra que a imposição de limites é uma característica rotineira da vida profissional, como o cumprimento de horários.
"O caso da GM passa pelo discernimento individual. A princípio, deveria parecer óbvio que o computador do trabalho não é adequado para divulgar mensagens pornográficas", ressalta.
O economista Luiz Carlos de Paula, 28, concorda que o profissional tem de ter consciência, mas observa: "Isso também é violação de privacidade, e a empresa tem de saber agir com bom senso".
O sociólogo José Luiz Nadai, 51, do IPO (Instituto de Psicologia Organizacional), aponta um fator ético no episódio da GM. "A funcionária americana que recebeu a mensagem e informou à direção mundial se sentiu agredida e se manifestou, o que é legítimo."
Na multinacional, todos os funcionários tiveram de reafirmar a responsabilidade sobre o uso, assinando novo termo de compromisso. "A empresa deixou claro que não vai mais admitir delitos semelhantes", declarou à Folha o vice-presidente da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), Turíbio Liberato, 45.


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