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ESCOLHA DESIGUAL
Disputa por trabalho abre brecha para segregação
Nos últimos 7 anos, MPT instaurou 920 ações para apurar denúncias
CRISTIANE ALVES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Humilhação. Esse é o sentimento provocado por oportunidades negadas àqueles que
foram alvo de discriminação no
ambiente de trabalho.
Nos últimos sete anos, o Ministério Público do Trabalho da
2ª Região instaurou 920 procedimentos que buscam apurar
denúncias de discriminação.
Um deles foi estabelecido a
partir de denúncia feita pela
professora Maria Aparecida da
Silva Oliveira, 36, que, em
2003, foi aprovada em um concurso para professora efetiva
da rede pública estadual de São
Paulo, mas ainda não ocupou o
cargo porque foi considerada
inapta pelo exame admissional.
"A médica falou que eu estava muito gorda, [questionou]
por que eu não fazia uma cirurgia de redução de estômago",
conta Oliveira, que diz não sentir necessidade de passar pela
cirurgia. "Ela me reprovou e colocou na ficha médica que o
motivo [da inaptidão para o
cargo] era que eu me recusava a
fazer a cirurgia", diz ela, acrescentando que sequer foi pesada
durante a consulta médica.
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, responsável pelo exame, a profissional "foi julgada inapta por ter obesidade
mórbida, considerada doença
pela Organização Mundial de
Saúde, além de problemas vasculares e hipertensão arterial."
A advogada trabalhista Sonia
Mascaro explica, porém, que
obesidade não é critério de
inaptidão para a profissão. "Se a
obesidade não a impede de
exercer a atividade, como escrever no quadro ou falar por
muito tempo, considero a não-contratação dela um ato discriminatório", afirma Mascaro.
Justiça
A grande oferta de trabalhadores é, para Clóvis de Barros
Filho, professor de ética da
USP e coordenador de pós-graduação da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), um dos motivos para que
a discriminação ganhe espaço
no mercado de trabalho.
"Como a mão-de-obra é
abundante, muitas vezes há
candidatos com possibilidades
de trabalho semelhantes. Nesse caso, é muito recorrente que
as preferências estéticas, étnicas e culturais sejam decisivas
para sua contratação", explica.
Mas a ação não atinge apenas
aqueles em busca de emprego.
Para Paulo (nome fictício), 40,
por exemplo, a relação com o
chefe mudou depois que ele
descobriu ser portador do vírus
HIV em 1998. Paulo conta ter
sofrido com o descaso da empresa multinacional em que
trabalhava havia sete anos.
"O gerente fazia reuniões e
me deixava isolado, me mandava calar a boca", relata. Depois
de dois anos e meio, conta, o gerente o demitiu. "Ele alegou
que, com a minha idade e "o que
eu era", não serviria para nada."
A empresa possuía ouvidoria,
mas suas denúncias não foram
verificadas. Hoje Paulo está
aposentado por invalidez e
aguarda o resultado do processo que move contra a firma.
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