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São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003

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SUA CARREIRA

Perguntas pessoais constrangem e levam preconceito às seleções

Luana Fischer/Folha Imagem
A estudante Denise Yamada, que teve de responder a pergunta sobre planos futuros de gravidez


DAYANNE MIKEVIS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Entrevista de emprego, currículo em mãos, ansiedade sob controle. De repente, surge a pergunta: "Você pretende ter filhos logo?". Ou: "Qual a sua opinião sobre o homossexualismo?".
A estudante de marketing e de artes plásticas Denise Yamada Gomes Pinto, 23, esteve nessa situação há dois anos. Surpreendida, respondeu que não pretendia ter filhos em breve.
Depois, a empresa ainda pediu a ela a indicação de um homem para a função. "Achei absurdo. Perguntar se eu podia sugerir um homem para a vaga foi demais."
Outra pergunta incômoda ouviu Carlos Melo, 26: "O que você acha do homossexualismo?". A resposta: "É um ótimo controle de natalidade". A vaga a que concorria era em um consulado.
Para Melo, o pior veio depois. Ele conseguiu o emprego, mas antes teve de fazer uma bateria de exames, inclusive para verificar se era soropositivo.
Outro caso curioso é o da jornalista Fernanda Meirelles, 30, que passou, quando adolescente, por seleção que incluía questões sobre sua renda familiar -onde estudava, se o pai tinha carro, onde morava e até se tinha herança.

O que fazer?
"Antes de tudo, responda com sinceridade", recomenda a vice-presidente da consultoria Fesa, Marina Vergili, 39. "Se pretende engravidar, diga daqui a quanto tempo, fale a verdade. Mas é claro que não precisa dizer que quer ter um filho agora", conclui.
"Não existem respostas prontas, seja honesto", aconselha Adriana Tabitch, 30, coordenadora de recrutamento da Manager.
No caso da pergunta sobre homossexualismo, Vergili recomenda que o candidato não se sinta ofendido, e, se perceber preconceito, que avalie como será seu cotidiano numa empresa que tem essa atitude já na entrevista.
As questões denotam preconceito, diz a professora da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo e integrante da Sempre Viva Organização Feminista, Maria Bocchini.
"A sociedade não vê os dois gêneros como iguais", comenta. Um de seus alunos, conta, já passou por uma indagação sobre homossexualismo durante uma dinâmica de grupo. Revoltado, emitiu um palavrão e foi embora.
Para Marina Vergili, da Fesa, essas perguntas causam realmente "desconforto", mas não são ofensas gratuitas. "Não é uma tática que eu usaria, mas ela pode servir para testar a reação da pessoa."
Em todo caso, completa Adriana Tabitch, da Manager, se a pessoa se sentiu desconfortável já na entrevista, convém refletir sobre se aquele é o local em que ela gostaria de trabalhar diariamente.

Lei
Qualquer gênero de discriminação (sexo, cor, orientação sexual, origem etc.) pode gerar uma ação por danos morais no Brasil. O difícil é provar o crime, explica o advogado especializado em direito civil Paulo Guilherme de Mendonça Lopes, sócio da Leite, Tosto e Barros Advogados.
Para processar o entrevistador, a vítima deve ter testemunhos que indiquem sarcasmo ou constrangimento no contexto da pergunta.

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