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CULPADOS?
Análise deve olhar além da conduta do trabalhador
Para MTE, ato inseguro faz firmas se eximirem da responsabilidade
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para compreender o que provoca um acidente, é preciso
olhar além da conduta do trabalhador. Problemas de comunicação entre chefes e subordinados, falta de treinamento e
pressão para atingir resultados
são alguns dos fatores organizacionais que podem provocar
um acidente de trabalho.
O papel da empresa diante do
acidente deve ser avaliado. Há
casos em que empresas não
preenchem a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho),
que informa o ocorrido ao MTE
(Ministério do Trabalho e Emprego) e à Previdência Social.
"Acidentes ocorrem por atos
inseguros do trabalhador, mas
também há empresas que não
cumprem as normas", diz Haru
Ishikawa, gestor de segurança
no trabalho do Sinduscon
(sindicato das construtoras).
Há problemas como a falta de
treinamento. "O comportamento só existe em razão do tipo de função que o operador
desempenha", acrescenta o
professor de medicina do trabalho Idelberto Muniz de Almeida, da Unesp de Botucatu.
Um exemplo é o acidente que
atingiu a mão do ajudante-geral G.R.P., 31, após 28 dias de
trabalho em uma metalúrgica
em Jandira, na Grande São
Paulo. Enquanto ajudava o
operador a lubrificar a máquina
laminadora, ele teve quatro dedos da mão direita amputados.
"Ele se afastou e me mandou
continuar o trabalho. Quando
limpava a mesa da máquina, o
cilindro puxou a luva e a minha
mão", lembra o metalúrgico.
Em reunião para discutir o
fato, a Cipa (Comissão Interna
de Prevenção de Acidentes)
concluiu que "se tratou de [ato]
inseguro e de desobediência do
funcionário, orientado e proibido de mexer na máquina", já
que a limpeza deveria ser feita
com a máquina desligada e pelo
operador qualificado. G.R.P.
diz não ter recebido nenhum
treinamento para sua função.
Responsabilidade
Para o diretor do Sindmetal
(Sindicato dos Metalúrgicos de
Osasco e Região), Gilberto Almazan, o MTE deveria fazer
uma campanha para mudar a
prática de procurar culpados.
Porém, para Rinaldo Marinho, diretor do departamento
de segurança e saúde do
MTE, o problema não é falta de
informação. "As empresas querem eximir-se da responsabilidade pelo acidente", opina.
Há 20 anos o Metrô de São
Paulo não aplica a metodologia
de ato inseguro. "Utilizamos
um sistema de gestão integrada, formado por engenheiros
de segurança, médicos do trabalho e pela Cipa", explica o
chefe de relações do trabalho
da empresa, Natanael Benício.
Hoje, os profissionais do Metrô passam por avaliação médica periódica e treinamento.
Como resultado, entre 2000 e
2005, a taxa de gravidade dos
acidentes caiu 15,51%.
Por fim, empregados terceirizados também devem receber
treinamentos de segurança para que conheçam o processo de
trabalho e seus riscos.
(CRA)
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