São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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CULPADOS?

Análise deve olhar além da conduta do trabalhador

Para MTE, ato inseguro faz firmas se eximirem da responsabilidade

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para compreender o que provoca um acidente, é preciso olhar além da conduta do trabalhador. Problemas de comunicação entre chefes e subordinados, falta de treinamento e pressão para atingir resultados são alguns dos fatores organizacionais que podem provocar um acidente de trabalho.
O papel da empresa diante do acidente deve ser avaliado. Há casos em que empresas não preenchem a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), que informa o ocorrido ao MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) e à Previdência Social.
"Acidentes ocorrem por atos inseguros do trabalhador, mas também há empresas que não cumprem as normas", diz Haru Ishikawa, gestor de segurança no trabalho do Sinduscon (sindicato das construtoras).
Há problemas como a falta de treinamento. "O comportamento só existe em razão do tipo de função que o operador desempenha", acrescenta o professor de medicina do trabalho Idelberto Muniz de Almeida, da Unesp de Botucatu.
Um exemplo é o acidente que atingiu a mão do ajudante-geral G.R.P., 31, após 28 dias de trabalho em uma metalúrgica em Jandira, na Grande São Paulo. Enquanto ajudava o operador a lubrificar a máquina laminadora, ele teve quatro dedos da mão direita amputados.
"Ele se afastou e me mandou continuar o trabalho. Quando limpava a mesa da máquina, o cilindro puxou a luva e a minha mão", lembra o metalúrgico.
Em reunião para discutir o fato, a Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) concluiu que "se tratou de [ato] inseguro e de desobediência do funcionário, orientado e proibido de mexer na máquina", já que a limpeza deveria ser feita com a máquina desligada e pelo operador qualificado. G.R.P. diz não ter recebido nenhum treinamento para sua função.

Responsabilidade
Para o diretor do Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região), Gilberto Almazan, o MTE deveria fazer uma campanha para mudar a prática de procurar culpados.
Porém, para Rinaldo Marinho, diretor do departamento de segurança e saúde do MTE, o problema não é falta de informação. "As empresas querem eximir-se da responsabilidade pelo acidente", opina.
Há 20 anos o Metrô de São Paulo não aplica a metodologia de ato inseguro. "Utilizamos um sistema de gestão integrada, formado por engenheiros de segurança, médicos do trabalho e pela Cipa", explica o chefe de relações do trabalho da empresa, Natanael Benício.
Hoje, os profissionais do Metrô passam por avaliação médica periódica e treinamento. Como resultado, entre 2000 e 2005, a taxa de gravidade dos acidentes caiu 15,51%.
Por fim, empregados terceirizados também devem receber treinamentos de segurança para que conheçam o processo de trabalho e seus riscos. (CRA)


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