São Paulo, domingo, 27 de junho de 2004

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Rota de fuga

Fernando Moraes/Folha Imagem
Depois de muito disfarçar, Lenice Modesto decidiu contar ao chefe que estava insatisfeita no trabalho e que buscava uma nova oportunidade


Procurar emprego enquanto se está trabalhando exige ética e estratégia; mudança pode render aumento

TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem nunca procurou emprego enquanto trabalhava pode ter a certeza de que: ainda vai passar pela situação um dia. Insatisfação, má remuneração ou atribuições pouco atraentes são fatores que afetam a motivação do funcionário, aguçando seu "faro" para as chances "do mundo lá fora".
Conciliar a caça à nova posição ao cumprimento das tarefas atuais, no entanto, é um desafio que requer atenção, segundo alertam os especialistas. Afinal, o processo envolve questões éticas e tende a gerar muitas dúvidas.
Um dos dilemas mais freqüentes é o de usar ou não a infra-estrutura do emprego atual como ferramenta de busca da nova posição. Isso porque, para quem está insatisfeito, internet e telefone ao alcance da mão se transformam em espécies de "portais" para a tão sonhada libertação.
"A verdade é que o trabalho atual não é local para fazer essa busca. Usar o telefone da empresa para esses fins é antiético, e há sempre o risco de haver alguém monitorando seus acessos à rede", comenta Denise Kamel, 30, da consultoria Selectus.
Para Kamel, assumir o mínimo de riscos em relação ao empregador é a postura mais sábia para atravessar o momento. "Apesar da decisão de procurar outra posição, a meta deve ser conseguir ficar bem ali até essa oportunidade despontar", explica ela.

Mudança e salário
De fato, mudar de emprego pode ser uma estratégia de crescimento, principalmente para quem se sente estagnado. Um estudo realizado pelo Grupo Catho com 41.395 executivos, entre os meses de novembro de 2002 e janeiro de 2003, apontou que 70% dos profissionais que mudaram de trabalho conseguiram salário maior no novo posto.
Além disso, é notório que encontrar uma nova oportunidade estando empregado é mais fácil do que para quem está em casa.
A possibilidade de aumento salarial não está restrita apenas aos altos postos. Quando trabalhava como operador de telemarketing, Anderson Fagundes, 26, decidiu migrar para outra empresa da área ganhando o triplo do salário.
"Passei a conversar com colegas para levantar alguns nomes. Mas nunca usei os telefones do trabalho para fazer os contatos."
Foi justamente a partir de uma ligação feita de um orelhão que ficava dentro da firma que Fagundes marcou a entrevista que lhe garantiu a nova vaga.

Pacote
Salário superior, entretanto, não deve ser a única meta. "O pacote constituído por remuneração mais benefícios serve de base para negociações mas também é interessante considerar fatores como distância de casa e identificação com as funções", ensina Vânia Della Negra, supervisora de "outplacement" da KPMG.
Tanto é que há quem saia para receber um salário menor. O publicitário Rogério Gomes, 30, trocou um emprego público por outro numa agência, com metade do salário anterior. "Era a área que eu queria", conta ele, que hoje já ganha mais do que ganhava como funcionário público.


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