São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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TRILHA ARRISCADA

Na moda, atividade outdoor tem eficácia questionada

Rodrigo Paiva/Folha Imagem
Marcelo Arias, que teve dificuldade para concluir o percurso no primeiro dos dez treinamentos dos quais participou


Para consultores, treinamento mal executado traz resultados negativos

LARA SILBIGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Chegou o sábado -em tese, dia de folga para o analista de recursos humanos Daniel Diez. E assim teria sido não fosse a atividade para a qual fora escalado: uma caminhada no mato organizada por sua empresa.
Entre cronômetros e bússolas, como membro de uma equipe, Diez estreou em provas de navegação por trilhas. "A cada dia, mais companhias buscam profissionais hábeis no trabalho em equipe. O trekking contribuirá para eu me aprimorar nesse sentido", analisa.
De fato, por estabelecerem essa relação, muitas empresas se valem dos chamados treinamentos vivenciais -atividades promovidas com o objetivo de aperfeiçoar temas como liderança, cooperação, comunicação, gestão de conflitos, ética e comportamento profissional.
No entanto, as atividades outdoor, se mal executadas, podem ter resultados pífios -e às vezes até prejudiciais- ao desempenho da organização.
Para Ana Lucia Matos, consultora do Instituto Avançado de Desenvolvimento Intelectual, a principal dificuldade é a consonância de expectativas entre gerentes e colaboradores.
"O gestor encomenda o programa na esperança de gerar resultado imediato, uma espécie de mudança instantânea."
Já a expectativa do funcionário, diz, varia entre "a espera por férias sabáticas, o medo do desconhecido e a sensação de que será outra atividade inútil".
"O funcionário não tem muita escolha", ressalta Júlio Bin, sócio-diretor da consultoria Gecko. "Ele participa do que lhe é proposto na esperança de que o processo acrescente algo à vida profissional e, algumas vezes, à pessoal."
Outro problema apontado por Bin é o fato de as empresas não consultarem o empregado antes da atividade experiencial. "Normalmente, é dada ao funcionário a possibilidade de avaliar a atividade somente depois de já ter participado dela."

Fortes emoções
Segundo Benedito Milioni, da AssertRH, o treinamento deve ser planejado com cautela (leia mais à página 3), por ser uma atividade com "forte envolvimento emocional".
Emoção foi o que não faltou para Giani Perez Kocsis, 38, que decidiu levar suas funcionárias para um treinamento vivencial com a intenção de reforçar o espírito de equipe.
"Passamos por caminhada, prova de aventura e canoagem, mas, quando foi a vez do rapel, não consegui continuar. Tive a impressão de que, se algo desse errado, não teria volta", diz.
Mesmo sob o risco de ter a liderança questionada, Kocsis não insistiu -nem sua equipe. "É como em um negócio: por alguns caminhos eu não sigo."

Colaborou Mariana Bergel


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