São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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TRILHA ARRISCADA

Riscos devem ser levados em conta pela empresa

Análise de detalhes como disposição física do profissional é pré-requisito

DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Mesmo quando bem planejado, nenhum treinamento vivencial está livre de riscos. "Médicos e profissionais da saúde mental devem ser ouvidos sobre os riscos inerentes às ações vivenciais, pois elas implicam grande mobilização física e emocional para o participante", salienta Benedito Milioni, da AssertRH, consultoria que organiza treinamentos.
Marcelo Arias, 27, gerente de uma firma de ferragens, diz ter sentido isso na pele: "Para sedentários, é difícil mesmo".
Da primeira vez em que participou de um treinamento vivencial, Arias teve dificuldade para concluir o percurso. "Eu não praticava esportes e tinha 20 kg a mais do que agora. Para acompanhar o pique da aventura, é preciso estar em forma", lembra o gerente, que hoje é um entusiasta das atividades vivenciais e diz já ter participado de dez treinamentos.
Outra variável a ser prevista é a acessibilidade física. Para Júlio Bin, da consultoria Gecko, se há no grupo um portador de deficiência ou uma pessoa com mobilidade reduzida, a atividade deve ser reestruturada.
"Isso não altera em nada o processo, mas, por outro lado, enriquece a percepção de todos sobre inclusão, respeito e trabalho em equipe", comenta.
Foi esse o pensamento que faltou na empresa em que a assistente administrativa Jucilene Evangelista, 25, trabalhava. Cega desde os cinco anos, ela conta que já passou por diversas situações constrangedoras. "Havia campeonatos feitos para os funcionários e eu nunca era convidada", recorda.
Há seis meses na área de seleção da Redecar, Evangelista, que é independente em quase todas as atividades, diz contar agora com total apoio de sua equipe em treinamentos.
"Posso acompanhar as atividades, pois a empresa criou condições para isso", comenta a estudante de psicologia, que defende a adoção de atitudes como essa por outras firmas. "Deve-se criar uma política de inclusão que considera as competências das pessoas levando em conta suas limitações", diz.

Papéis separados
Outro ponto essencial suscitado pela psicóloga e consultora organizacional Meiry Kamia é o grau de profundidade dos treinamentos vivenciais.
"O nível de trabalho é bem mais superficial e mais voltado para o processo grupal da empresa. Não se pode confundir treinamento com terapia grupal ou clínica", esclarece Kamia. Ela exemplifica: "Não é objetivo da metodologia experiencial tocar em assuntos da vida particular ou curar fobias".
Caso isso aconteça, Ana Lucia Matos, do Instituto Avançado de Desenvolvimento Intelectual, alerta para o risco de se criar um trauma profissional. "Um constrangimento pode gerar sofrimento e desgaste desnecessários, o que resulta em esfacelamento do clima organizacional", adverte. (MB E LS)


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