São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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EXECUTIVOS SOB PRESSÃO

Turbulências põem desempenho em xeque

Fernando Moraes/Folha Imagem
Profissionais de consultoria de RH paulistana


FREE-LANCE PARA A FOLHA

Fraudes em companhias norte-americanas, credibilidade de empresas de auditoria colocada em dúvida, crises na América Latina, disparada do dólar, alta do risco-Brasil. Nesse cenário tão adverso, não são apenas os funcionários com menores salários que temem o desemprego. Os executivos estão cada vez mais sob pressão.
Segundo pesquisa com 2.500 empresas feita pela consultoria Booz Allen Hamilton, a rotatividade dos CEOs (Chief Executive Officers, os principais dirigentes) aumentou 53% na Europa e nos Estados Unidos, entre 1995 e 2001 (portanto, sem ainda levar em conta toda a crise deste ano).
No Brasil, a situação não é diferente. Consultores especializados em recrutamento de executivos afirmam que os profissionais brasileiros também são cada vez mais pressionados a atingir metas, especialmente em momentos como o atual, em que a conjuntura econômica não é nada favorável.
Pesquisa do Grupo Catho com 9.174 executivos mostra que, em 1997, um presidente permanecia na mesma companhia, em média, sete anos e meio. Em 2001, essa média caiu para quatro anos e meio. "Isso é uma prova de que a rotatividade vem aumentando também aqui", analisa Thomas Case, presidente do grupo.
"Hoje o executivo tem de provar a capacidade de gerar lucros em espaço de tempo cada vez mais curto. Quem não consegue atingir metas é substituído", comenta Marcelo Vasconcelos, consultor sênior da Michael Page.

Cobranças
"Vivo sob a ameaça da rotatividade há 15 anos, quando entrei para o mundo corporativo. E, sem dúvida, ela vem aumentando. Mas, no fim, acabei aprendendo a lidar com isso e com todas as cobranças", conta J. S. (ele não quer ser identificado), executivo que hoje trabalha em um banco e que já atuou nove anos em auditoria.
Na avaliação de Denys Monteiro, vice-presidente-executivo da consultoria Fesa (Financial Executive Search Associates), até a década de 90, as companhias precisavam recorrer aos bancos para captar dinheiro. Mas, com a facilidade de ir ao mercado vender ações, as empresas puderam crescer sem a intervenção de bancos. "Assim, as pressões de acionistas e do conselho das companhias sobre os executivos ficou maior."
E a cobrança é exercida também pelos funcionários, diz o executivo de uma companhia de telefonia que não quis se identificar. "A tomada de decisões muitas vezes contraria a vontade dos empregados, e você corre o risco de desanimá-los e sair desmoralizado."
Ele chegou a pedir demissão da empresa onde atuou por mais de dez anos e cogitou abandonar de vez o mundo corporativo, tamanho era seu estresse. "Mas, depois de umas férias, recebi uma boa proposta e não resisti."
A expectativa frustrada dos acionistas com relação às performances dos executivos não é a única explicação para a rotatividade. Aquisições e fusões (como a compra da Compaq pela Hewlett-Packard e da Pharmacia pela Pfizer e a incorporação, no Brasil, da auditoria Arthur Andersen pela Deloitte Touche Tohmatsu) também acentuam a instabilidade.
"Essas mudanças geram cargos redundantes e exigem que a empresa reestruture seus níveis hierárquicos", diz o consultor Marcelo Mariaca. (GIOVANA TIZIANI)



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