S?o Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

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Trabalhador vê padrão de vida cair

Para pagar contas, profissionais recorrem a amigos e família e acionam empresa na Justiça

DE SÃO PAULO

Quando não há previsão para o salário atrasado ser pago, profissionais não veem outra saída: têm de abrir mão de atividades rotineiras e pedir dinheiro emprestado para manter o padrão de vida.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, a inadimplência deixa o trabalhador abalado emocionalmente. A saída é, muitas vezes, buscar recolocação no mercado.
"O descaso faz o profissional abandonar o posto", opina o diretor regional da Rede Nacional de Contabilidade Marcos Apostolo, sobre a alta rotatividade de companhias que não pagam em dia seus colaboradores.
Em casos recorrentes de atraso de pagamento, é possível fazer denúncia ao sindicato ou ao Ministério do Trabalho, pedir rescisão indireta do contrato de trabalho e entrar com ação na Justiça.
A solução encontrada pelo engenheiro M.O., 28, foi pedir demissão em novembro para receber parte dos três salários atrasados, que totalizavam cerca de R$ 16 mil, e saldar dívidas. "Primeiro, deixaram de depositar o FGTS [Fundo de Garantia do Tempo de Serviço]. Depois, atrasaram pagamentos", diz ele, que permaneceu por dois anos e meio na empresa.
Para não se tornar inadimplente, a solução foi pedir dinheiro emprestado a familiares e amigos. "O difícil foi abrir mão do padrão de vida ao qual estava acostumado."
A opinião é compartilhada pela psicóloga V.L., 30, ex-funcionária de um hospital de São Paulo. Ela suspendeu o curso de pós-graduação e atrasou as contas do celular e da assistência médica.
"Para quitar minhas dívidas, minha mãe entrou no cheque especial", conta.
Foram cinco meses sem remuneração. Em setembro, ela foi despedida.
Os impostos referentes aos dez meses trabalhados também não foram pagos. "Entrarei na Justiça", pontua.

TRANSPARÊNCIA
Para Roberto Morsa, consultor de carreira da Top Prime, de gestão de pessoas, os trabalhadores têm direito a ser informados sobre o motivo do atraso do salário ou do benefício, "o que não ameniza a situação, mas demonstra transparência dos gestores".
Para Aparecido Inácio, advogado especialista em direito coletivo do trabalho, ao receber a notícia, o funcionário não deve se expor -como ser agressivo nos questionamentos. "Se fizer isso, estará fadado à demissão", avalia.
O indicado, diz, é entrar em contato com o sindicato ou o Ministério do Trabalho.


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