São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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REFLEXO DA VIOLÊNCIA

Vítimas de assalto têm maior risco de transtorno

Instituição financeira dá apoio a bancário, função de alta exposição

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Era uma tarde de segunda-feira. A agência bancária onde J. trabalha como gerente não estava mais aberta ao público, e ele se preparava para fazer o fechamento do dia.
Um homem vestido de carteiro bateu no vidro para chamar a atenção do vigia. Ao invés de cartas, ele tinha uma arma. Após render o funcionário, o assaltante entrou na agência com outros comparsas.
"Não consegui demonstrar reação nenhuma, simplesmente congelei", conta J.
Após o ocorrido, ele voltou ao trabalho, mas, dias depois, "quando a ficha caiu", sentiu que não conseguiria continuar. Afastado de suas funções, J. diz que ainda está abalado: passa por tratamento psicológico e toma remédio para dormir.
De acordo com a literatura médica internacional, o assalto é o evento violento com o maior risco de desencadear o TEPT (transtorno de estresse pós-traumático), afirma a professora de psicopatologia do trabalho Sílvia Jardim, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Coordenadora do Programa de Atenção à Saúde Mental dos Trabalhadores do Instituto de Psiquiatria da instituição, Jardim diz haver entre seus pacientes um aumento de casos do transtorno relacionados a esse tipo de crime.
Segundo ela, bancários, entregadores de mercadorias e motoristas e cobradores de ônibus são os mais expostos.
"Vemos esses trabalhadores absolutamente desprotegidos nessas situações", comenta.

Programas
No primeiro trimestre deste ano, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública, ocorreram 66 assaltos a banco no Estado de São Paulo.
Algumas instituições financeiras têm programas para atender a funcionários que passaram por situações de violência. O Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Banco Real, por exemplo, oferecem assistência psicológica e jurídica aos colaboradores que sofreram assalto ou seqüestro.
Na Nossa Caixa, são feitos encontros terapêuticos em uma pousada no interior paulista. "É um espaço para que os funcionários tenham contato com as suas emoções", destaca Maria Alice Moretti, coordenadora de suporte à gestão da saúde do banco.
Para Marcelo Batista Nery, pesquisador do NEV-USP (Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo) e do Instituto São Paulo Contra a Violência, quando há um ato violento dentro de uma empresa, é preciso analisar os motivos da ocorrência e, depois, tomar atitudes diante das conclusões.
Ao contrário do que, segundo Nery, costuma acontecer em algumas companhias, que preferem abafar o fato, o pesquisador aconselha que todos os funcionários sejam informados do ocorrido. "Não se deve acobertar a situação." (IG)


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