São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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Salário baixo e tarefas sem relação com a futura profissão ameaçam os acomodados

Estágio ruim exige reação

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Nem todo mundo consegue ter o primeiro emprego em uma multinacional ou em uma companhia reconhecida, com salário alto e muitas regalias.
Um problema comum num estágio fraco é a empresa utilizar o universitário como mão-de-obra barata, mas qualificada. Outro ponto é trabalhar numa área que não tenha relação com a formação do futuro profissional.
Consultores dizem que uma má experiência pode ser também resultado de falta de perseverança do estudante, caso ele mantenha uma posição conformista diante dos problemas encontrados (veja quadro ao lado).
Para conseguir o primeiro estágio, os estudantes aceitam trabalhar até de graça, principalmente se ele for uma etapa obrigatória para a obtenção do diploma.
O estudante de desenho industrial Fábio Freitas, 23, fez um estágio na área de marketing em uma empresa de embalagens de vidro. Durante o programa, Freitas preenchia fichas e fazia contato com clientes e fornecedores. "De criação, que é a minha área, não tinha muita coisa", afirma.
Além do trabalho burocrático, o estudante diz ter sofrido assédio moral. Ele conta que a chefe implicava com qualquer coisa. Como exemplo, cita o dia em que foi repreendido por estar arrumando os ícones do computador.
Mesmo com a pressão diária da superiora que, em tese, deveria orientá-lo, Freitas pensou muitas vezes antes de pedir demissão, pois era bem remunerado.
O estudante diz que não teve dificuldades para conseguir outra oportunidade. Segundo ele, chegou a recusar ofertas de grandes empresas por não serem da sua área de atuação. Atualmente, declara-se satisfeito com um estágio que faz na área de criação de uma empresa de design gráfico.

Ofertas duvidosas
Só a Universidade Mackenzie, onde Freitas estuda, recebeu mais de 10 mil ofertas de estágio em 2001. Cerca de 70% delas seriam de trabalhos que utilizam o aluno como mão-de-obra barata, estima o analista de RH da universidade, Cássio Nascimento Silva.
A coordenadora de estágios da Eaesp-FGV, Christina Dias Leite, observa que os alunos que tiveram uma experiência ruim com empresas se tornaram mais perspicazes na negociação.
Estudantes ouvidos pela Folha disseram que estágios ruins ajudaram no amadurecimento e os deixaram mais bem preparados para escolher onde trabalhar.
A.A.C., 23, estudante de administração da Eaesp-FGV, concorda. Ela passou por duas situações negativas, uma delas na área pública, mas afirma que não se arrepende. "Faria tudo de novo."
Em uma de suas experiências, na Prefeitura de São Paulo, não ganhava bolsa-auxílio. Na área pública, diz, quem é concursado deixa tudo na mão do estagiário.
Em um estágio anterior, numa consultoria privada, A. era remunerada. Em compensação, nem sequer tinha nome. Os colegas a chamavam de "estagiária", e suas idéias e seus projetos eram barrados pelo chefe, que a sobrecarregava com serviços administrativos. (FABIANA CIMIERI)


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