São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

Próximo Texto | Índice

MERCADO ANIMADO

Setor abrange filmes institucionais, games e internet, mas não dispõe de mão-de-obra

País é carente de profissionais qualificados

PAULA LAGO
EDITORA-ASSISTENTE DE EMPREGOS E NEGÓCIOS

O que os filmes "Kill Bill", "O Senhor dos Anéis" e "O Homem que Copiava" têm em comum com o seriado da TV Globo "Sob Nova Direção"? A resposta está no detalhe: o uso da animação.
Esse mundo, diferentemente do que se costuma pensar, não se limita a programas infantis. Sua presença se estende a propagandas, a filmes institucionais, a games e à internet, o que indica o potencial do ramo -geralmente visto inicialmente como hobby e só depois como carreira.
Foi assim com Mauricio de Sousa, 68, há 23 anos na animação, e com Walbercy Ribas, 61, autor do longa "O Grilo Feliz", há 37 anos no ramo. E tem sido assim também com Fábio Valle de Oliveira, 26, ilustrador free-lancer e ex-publicitário que atualmente freqüenta um curso de animação.
Alguns fatores comprovam o amadurecimento do setor no país: a organização de festivais, a preocupação com a formação, as discussões sobre a falta de séries nacionais na TV e sobre leis de incentivo que atendam às necessidades da animação.
Outro elemento é o número de atuantes: nos anos 70, segundo o Instituto Brasileiro de Cinema Digital, eram 15 os profissionais. Hoje, são 300 produtoras, contabiliza a ABCA (Associação Brasileira de Cinema de Animação). "O mercado está crescendo, e a movimentação é cada vez maior. O que falta é material brasileiro em circulação", afirma Arnaldo Galvão, 47, diretor da ABCA.

Em expansão, mas carente
A carreira ainda sofre com a carência de trabalhadores qualificados. Profissionais da área ouvidos pela Folha afirmam que o mercado sente falta de animadores, de desenvolvedores de "storyboard" -que transformam um roteiro em linguagem de animação-, de planejadores e de roteiristas.
Essa carência pesa no salário. Não há uma tabela oficial, mas um animador ganha de R$ 100 a R$ 350 por segundo produzido (cena de 12 desenhos). O valor pode superar essa média quando a equação tem a favor dois quesitos: experiência e trabalho a ser desenvolvido. A mesma lógica leva iniciantes a atuarem de graça. "Sobreviver de animação depende dos contatos que você fizer", diz Fábio Valle de Oliveira.
"Temos excelentes ilustradores e diretores de animação, mas falta um corpo de profissionais [de apoio] que faça essa estrutura andar", diz Aída Queiroz, diretora do festival Anima Mundi e professora de animação da PUC-RJ.
Mauricio de Sousa completa: "Há uma demanda mundial por animação de qualidade. A Itália, por exemplo, conquista picos de audiência transmitindo desenho animado brasileiro. Enquanto não entendo a ausência da Turma da Mônica nas TVs daqui [a previsão é de estréia em junho no canal pago Cartoon Network], vou usando outros países".

Agenda
Dois eventos podem interessar a quem quer entrar na área: O Mundo dos Quadrinhos, do Senac (0/xx/11/3866-2500), que é grátis e acontece amanhã e de 15/7 a 17/7, e o Anima Mundi (www.animamundi.com.br), de 9/7 a 18/7 no Rio e de 21/7 a 25/7 em São Paulo, com exibições pagas.


Próximo Texto: Mercado animado: Brasileiro pode deixar autodidatismo de lado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.