São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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BASTIDORES DA RECOLOCAÇÃO

Proposta para conferir oportunidade em outra cidade pode ocultar "cobrança-surpresa"

Consultor tenta atrair profissional de fora

Fernando Moraes/Folha Imagem
Jander Pereira viajou e passou o dia esperando uma entrevista


FREE-LANCE PARA A FOLHA

A distância que separa Florianópolis de São Paulo é de 700 quilômetros. O trajeto, para a farmacêutica V.M., 24, que pediu para não ser identificada, seria curto se ela trouxesse na bagagem de volta o emprego que procurava.
"Ligaram para o meu celular dizendo que tinham uma oportunidade para mim, mas que eu deveria estar na empresa no dia seguinte", conta ela. Ao chegar à CCConection RH, o emprego "sob medida" exigia um laudo psicológico de R$ 2.000.
Ela percebeu a situação es- tranha e decidiu não assinar o contrato. "Mas me sinto totalmente prejudicada e enganada. Gastei com a viagem e ainda perdi um dia de trabalho."
O documento redigido pela empresa e assinado pela candidata estabelece São Paulo ou a cidade-sede da instituição como local para possíveis ações judiciais ou reclamações.
Até o fechamento desta edição (sexta-feira), não foi possível entrar em contato com a empresa CCConection RH. No telefone divulgado em seu site, há apenas a mensagem de que o número está temporariamente fora de serviço.

Lado mais frágil
Mesmo tendo assinado um contrato, é possível recorrer ao Código de Defesa do Consumidor. "Considerando-se a situação de vulnerabilidade do consumidor, o código defende a inversão do ônus da prova [assim, a empresa é quem deve provar que não cometeu o crime] e também estabelece que o cliente tem foro privilegiado, podendo recorrer na própria cidade", alerta Maísa Feltrin, advogada do Idec.
Foi o que fez o engenheiro químico A.M., 32, que, depois de se deslocar de Joinville (SC) para Curitiba e de ter pago R$ 1.500, entrou com uma reclamação no Procon em agosto deste ano, cancelou os débitos no cartão de crédito e aguarda o resultado. "Se, no Procon, não houver acordo, o caso vai para o Juizado Especial Cível", diz ele, que prefere omitir o nome da empresa.
"Bastou colocar meu currículo nos sites de vagas e comecei a receber várias ligações, o que acontece até hoje. Até a empresa que processei continua me oferecendo vaga com a mesma conversa", diz o administrador de empresas Jander de Melo Pereira, 46, que também não quer identificar uma consultoria de Campinas (SP).
Quando foi contatado para uma vaga de gerente de tecnologia numa multinacional, Pereira resolveu arriscar. Levou a mulher e a filha para a cidade, a 95 km de São Paulo. Ele conta que, além do desgaste emocional, teve prejuízo de R$ 300 pelo pagamento de testes que dariam acesso a entrevistas das quais ele nunca participou.
Para evitar esses problemas, Leila Cordeiro, da Fundação Procon, recomenda que o candidato busque informações sobre a empresa e consulte reclamações em órgãos de defesa do consumidor -mas antes de sair de casa. (AR)


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