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Nostalgia e decepção com o país levam à depressão do regresso COLABORAÇÃO PARA A FOLHANostalgia, perda de liberdade, frustração e decepção com o próprio país são alguns motivos que levam à síndrome do regresso, cujo sintoma mais comum é a aparente recusa em viver no presente. "Enquanto mora fora, a pessoa tende a idealizar a própria terra", diz Roosevelt Cassorla, professor de psicologia da Unicamp. Foi o caso de Danielle Cassar, 24. Ela vivia na Irlanda desde 2009, até que engravidou do marido maltês, há dois anos, e decidiu voltar e criar o filho no Brasil. A nostalgia a fez esquecer da burocracia tropical: "Viemos com a intenção de investir em imóveis, mas nem conseguimos abrir conta no banco. O casamento entrou em crise", diz. Ela se sentia culpada por ter trazido o marido a um lugar onde nada parecia dar certo. O casal mudou para Malta, país a 93 km da Itália, e os problemas sumiram, segundo Danielle: "Hoje sei que não me readapto ao Brasil". A modelo Marina Mesquita, 22, sabia que violência urbana era um problema em São Paulo, mas sofreu um choque de realidade ao voltar da França. Ficou seis meses sem sair à noite. "Tinha pânico, pedia pizza por telefone, achava inviável sair depois das 22h. Minha mãe percebeu que algo andava mal quando sofri queda de pelos do rosto e precisei de médico". Após sete anos no Canadá, a tradutora Paula Taverneiro, 30, compara: "Aqui você só é valorizado se tem um trabalho considerado bom, de 'classe média'. Lá ninguém se importa se você é garçonete ou professora". Como aqui não era o caso de servir mesas, Paula ficou um ano sem emprego. ROTA DE FUGA No retorno, leva vantagem quem conheceu mais lugares e tem perspectivas no Brasil, diz Marina Motta, gerente de intercâmbio do STB (Student Travel Bureau), em Recife. "Nada como conhecer outro lugar para se desapegar do 'primeiro amor'", diz. A gerente fez 11 intercâmbios de 1996 a 2001. No primeiro, tinha 14 anos. "No começo, sua base de comparação é pequena, então você supervaloriza o que é de fora. Adicionar outros países e valores na balança ajuda a ver que toda cultura tem seus pontos baixos." Aos 15, Marina tinha duas certezas: não iria morar no Brasil nem casar com brasileiro. Hoje, aos 30, mora em sua cidade natal e é casada com um rapaz que cresceu perto de sua casa. "As primeiras viagens são de deslumbre, tudo é perfeito. Depois a gente cria casca e passa a ser mais justo com o Brasil." A economia do país, acredita, ajuda a reduzir a depressão da volta: "Alguém em início de carreira tem mais chances aqui do que na Europa". "Adicionar outros países na balança ajuda a ver que toda cultura tem pontos baixos" Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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