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'Escolhi o pai do meu filho em uma lista'

DE SÃO PAULO

"Namorei bastante, mas não casei, assim, de morar junto. A ideia de ter filho sempre foi uma coisa mais distante. Hoje sei a razão: tive síndrome do pânico com 20 e poucos anos e não conseguia me imaginar cuidando de uma criança. Não tinha condição. Aí eu me tratei, fiz análise e fiquei bem.

Com 41 anos, em uma consulta de rotina, fui diagnosticada com endometriose. O médico perguntou: 'Você pretende ter filho ainda?'. Na hora, eu falei: 'Não sei...'. Mas aquilo ficou na minha cabeça: 'Ter filho, ter filho...'.

Falei para o meu terapeuta que queria adotar. Ele perguntou por que eu não tentava engravidar. 'Como assim?' Estava com 42 anos e achava que não dava mais. Procurei um médico e ele disse que dava para fazer. Decidi tentar.

Lembrei de um amigo meu, gay, que vivia me dizendo que queria ter filho comigo. Fui falar com ele toda bem resolvida e ele reagiu muito mal, não quis. Foi horrível. Não perguntei para mais ninguém. Comprei o sêmen num laboratório e pronto.

Minha família me apoiou, não se importaram de a criança não ter pai, mas se preocuparam com a minha idade.

Peguei uma lista de doadores de sêmen. Tinha negro, oriental, branco e mulato. E uma lista com características: peso, altura, cor de pele, cor de cabelo, cor do olho, religião, hobby. Como tenho olho claro, escolhi um que tinha olho claro também e que fosse alto, não fosse gordo.

Na primeira tentativa não deu certo. Saiu o resultado, foi horrível. Na segunda também não funcionou. Mas na terceira deu certo. Fiz a fertilização em setembro de 2010. O Rafael nasceu em junho de 2011, eu estava com 46 anos. Foi uma gravidez fantástica.

O sêmen que deu certo tem alguma coisa com música, ele é arranjador, acho. Achei isso legal. Não sei se pode influenciar os hobbies do meu filho, mas o Rafael tem uma coisa com música muito forte. Eu brinco que puxou o pai.

Falo para as pessoas que ele é produção independente. Não tenho medo de criar o Rafael sozinha. Foi a melhor coisa que fiz, seria uma roubada [ter filho com alguém conhecido]. Minha família é unida, me sinto amparada.

Não vai ter problema ele não ter pai. Nas festinhas que eu vou com ele, os pais não vão, só as mães. Claro que o pai faz falta, mas acho que não é indispensável."

lilian DE FREITAS GOUVÊA, 47, designer

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