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'Paramos de dar notícia ruim para a família'

JULIANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Arthur foi esperado por cinco anos. A saga, que consumiu R$ 120 mil, começou em 2003, um ano depois do casamento, quando Ana Paula Ribeiro, 36, descobriu que tinha endometriose: "As trompas não estavam bem, havia muitos cistos nos ovários", conta.

A descoberta de que não poderia ter filhos naturalmente acelerou a decisão de tê-los. Desde então, foram oito fertilizações in vitro.

"O primeiro negativo é o mais sofrido", relembra Ana. "Saí da clínica me achando grávida. Tinha 29 anos, via o procedimento com fantasia".

Depois da terceira tentativa, pararam de contar para a família: "Todo mundo sabia que a gente estava tentando, mas paramos de ficar passando relatório. É chato vir com notícia ruim a cada dois meses", explica José Carlos, 42.

Nesse período Ana começou a pesquisar o assunto por conta própria, em livros e redes sociais: "O médico ficava louco comigo. Eu lia sobre uma técnica e ia perguntar, ver se podia tentar", diz Ana.

Os fóruns também serviam como companhia, o que era motivo de riso para o marido: "Ela estava na segunda tentativa e tinha uma tal Dona Odete que estava na oitava. Aquilo para a gente soava surreal. Eu dizia para ela: 'Bem, você vai virar a Dona Odete'", brinca José Carlos.

Dinheiro não chegava a ser um problema, mas o custo do tratamento incomodava Ana: "Sentia que não era justo porque a maior parte do dinheiro vinha dele e o problema era comigo. Ficava sensível com tanto hormônio".

Ela passou a comparar o preço de tudo com o da caixa de um remédio usado no tratamento. Planos de ter um negócio foram adiados, era difícil mensurar o investimento em caixas de drogas.

Ana fez duas operações e perdeu as trompas por conta da endometriose, ganhou dez quilos pelo uso de hormônios, teve trombofilia (distúrbio que afeta a irrigação da placenta) e um aborto espontâneo. Passou por duas clínicas de fertilização.

Quando Arthur finalmente veio, a tensão só foi embora no quinto mês de gestação. Ele nasceu no sétimo: "Tive muito medo de perdê-lo e ter que começar o tratamento inteiro de novo. Parei de trabalhar logo, não queria arriscar. Digo que o barato da minha gravidez durou dois meses, mas fez valer os outros cinco anos de tentativa", diz.

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