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Análise

Sobram dúvidas éticas sobre o mercado da vida

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Com 34 anos e "mãe" de mais de 4 milhões de bebês pelo mundo, a fertilização in vitro ainda é alvo de polêmicas médicas, éticas e jurídicas. A começar pela sua indicação indiscriminada.

A técnica foi criada para casos complexos de infertilidade. Antes dela, deveriam ser investigadas as causas da dificuldade de gravidez e, quando possível, se tentar métodos simples, como relações sexuais programadas.

No entanto, a FIV e suas variações são as mais usadas nas clínicas de reprodução.

O acesso ao tratamento pela população, porém, é limitado no país. São feitos aqui em torno de 50 ciclos para cada milhão de habitantes. Em países da Europa, a média é de 1.250 ciclos por milhão.

A técnica também envolve riscos, como a síndrome da hiperestimulação ovariana e a perfuração de órgão na retirada dos óvulos, que nem sempre são informados.

O grande filão -e o principal desafio-das clínicas são mulheres que decidem engravidar depois dos 35 anos.

Mulheres jovens que não têm planos de gravidez têm sido estimuladas a congelar seus óvulos para o futuro, quando a fertilidade decair.

Acontece que não é possível garantir a gravidez. Não se sabe se depois de anos congelado o óvulo manterá a qualidade original. Seria ético vender esse serviço?

Às mães tardias, com riscos de gerar bebês com malformações, é sugerida a biopsia dos embriões antes da transferência para o útero. Mas faltam evidências de que a relação custo e benefício seja compensatória à paciente.

Na área da bioética, os dilemas persistem. É ético uma mulher usar óvulos de outra mais jovem para engravidar aos 70 anos? Ou uma mulher engravidar com esperma congelado do marido morto?

No vácuo de uma legislação brasileira que regule a área, prevalece nas clínicas o provérbio português "cada cabeça, cada sentença".

Ainda que haja o perigo de retrocesso e manipulações deixar a cargo dos legisladores a decisão de criar normas, é imperativo que o Brasil discuta o tema, como já o fizeram a Europa e os EUA. Do contrário, o mercado continuará ditando as regras do jogo da vida.

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