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Análise

Censura não é bom antídoto contra preconceito

JOSIAS DE SOUZA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O ser humano dá preconceito como a bananeira dá bananas. As atitudes discriminatórias incondicionadas só desaparecerão por completo no dia em que o último homem deixar a Terra, tendo o cuidado de puxar pela mão a última mulher. Até lá, não cabe senão lidar com o veneno.

No filme "Os Vingadores", o preconceito foi borrifado numa frase de pretensões cômicas: "Ele é adotado".

Quando se manifesta numa obra artística -ou pseudoartística- o preconceito pede informação, não censura. Pai de uma linda adolescente de 15 anos, adotada aos dois meses, comentei com ela a polêmica. O que acha?, indaguei. "Nossa, que bobagem!", ela respondeu.

Nenhum outro vocábulo resumiria melhor a cena. Bobagem. No caso específico, os defensores da tesoura apenas potencializam a asneira. Fora das telas, no terreno escorregadio da vida real, o que conta é a verdade.

Menciono, por oportuno, um episódio da infância de minha filha. Ela tinha sete anos. Aproximava-se o Dia das Mães. A professora pediu às crianças que levassem fotografias das genitoras grávidas. As imagens comporiam um mural comemorativo.

Corremos, eu e minha mulher, à escola. A azáfama se revelaria desnecessária. Nossa filha já havia informado à professora sobre a natureza dos laços que unem nossa família. Providenciara uma bela foto. Bebê, aparecia não na barriga, mas no colo da mãe.

Desde então, percebi o valor da verdade no processo que leva ao entrelaçamento das almas. Minha filha não é biológica nem adotiva. Informada desde sempre sobre os detalhes de sua história, tornou-se uma filha natural. Quando submetida ao preconceito, reage com naturalidade. "Nossa, que bobagem!"

O humor, como se sabe, compreende também o mau humor. O mau humor é que não compreende coisa nenhuma. Qualquer adolescente de 15 anos percebe que o disparate no enredo de "Os Vingadores" é filho da ignorância. Nesse caso, um filho biológico. Ele não foi adotado.

JOSIAS DE SOUZA é jornalista e titular do Blog do Josias, do portal UOL

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