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MIRIAN GOLDENBERG miriangoldenberg@uol.com.br

Invejas femininas

Eles não perdem horas para se arrumar nem passam dias pensando sobre o que vão usar num evento especial

O coquetel de lançamento do meu novo livro, "Tudo o que Você Não Queria Saber sobre Sexo", foi no Dia dos Namorados, na Livraria Travessa do Shopping Leblon.

Já no mês anterior comecei a procurar o vestido para o evento. Comprei um vermelho, mas achei muito simples. Comprei outro, verde, mas achei muito formal. Tentei um lilás, de renda, mas achei muito apagado. Uma aluna da pós-graduação, figurinista de novelas, sabendo da minha ansiedade, deixou na minha casa um lindo vestido vermelho.

Postei na minha página do Facebook uma pergunta do livro: "O que você mais inveja em um homem?". As mulheres responderam: liberdade, fazer xixi em pé, capacidade de separar sexo e amor, não engordar tão facilmente, não menstruar, não ter TPM, não ter menopausa, não precisar se depilar, não ter celulite.

Uma amiga escreveu: "Invejo a falta de preocupação deles na hora de sair. Eles não perdem horas para se arrumar ou dias pensando no que vão usar naquele evento especial, se o modelo está na moda, se a cor combina com o tom da pele, os acessórios, se vai ter alguém com o mesmo vestido, em arrumar o cabelo, fazer a maquiagem... Ufa! Que mão de obra!".

Outra disse: "Invejo a facilidade masculina para se vestir. Um terno e ele está pronto para casamentos, uma camisa mais arrumada e pode ir a festas, jeans e camiseta e está perfeito para sair. E pode repetir a mesma roupa inúmeras vezes. É quase um uniforme".

Mandei uma mensagem para o coautor do livro, o cartunista Adão Iturrusgarai, que mora na Argentina: "Você também está sofrendo para encontrar o figurino do lançamento?". Ele respondeu: "Nós, homens, somos mais simples. Meu modelito de lançamento será uma sunga".

O evento começava às 19h. Experimentei todos os vestidos e optei pelo vermelho mais simples. Saí de casa, andei duas quadras e voltei para trocar pelo verde. No banheiro do shopping, troquei o verde pelo vermelho deixado pela figurinista.

Entrei na livraria bastante insegura. Logo percebi, pelos elogios, que havia feito a escolha certa. Gastei um dia inteiro me produzindo: fiz maquiagem, arrumei o cabelo, fiz as unhas das mãos e dos pés e depilação e experimentei vários vestidos, sandálias, brincos etc.

Encontro com o Adão: ele veste uma camiseta branca, um jeans surrado e um tênis.

Suspiro e penso: "Como é muito mais fácil ser homem".

Disfarço minha inveja e brinco com ele: "Ainda bem que você não veio de sunga".

MIRIAN GOLDENBERG, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "Toda Mulher é Meio Leila Diniz" (Ed. BestBolso)

NA PRÓXIMA SEMANA

Anna Veronica Mautner

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