São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2000

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NA MESA


Órgão sexual entre as orelhas


Reprodução
 
  Folha de ginseng, que tem boa fama na China


TAMAR NORDENBERG - DO FDA


Em busca do sucesso sexual e da fertilidade, até a Lua -e tudo o que existe debaixo dela- já foi alardeada como afrodisíaco por diferentes pessoas e sociedades. Um afrodisíaco é um alimento, uma bebida, droga, perfume ou artefato que, segundo o vendedor, é capaz de despertar ou intensificar o desejo sexual. Uma definição mais ampla do termo inclui os produtos que melhoram o desempenho sexual. A origem da palavra vem de Afrodite, a deusa grega da beleza e do amor sexual, e a lista de supostos estimulantes sexuais inclui desde anchovas a adrenalina, passando por alcaçuz, banha, vieiras, cantáridas e centenas de outros.
Segundo o FDA (Food and Drug Administration, órgão do governo norte-americano responsável pelos alimentos e medicamentos), os supostos efeitos sexuais dos chamados afrodisíacos baseiam-se no folclore, e não em fatos. Em 1989 o órgão declarou que não existem provas científicas de que qualquer produto afrodisíaco vendido sem receita médica seja eficaz no tratamento de disfunções sexuais.
As conclusões do FDA se chocam com uma tradição de 5.000 anos de buscar a melhora do desempenho sexual por meio do uso de plantas, drogas e magia. Apesar da conclusão do FDA de que os afrodisíacos vendidos sem receita médica são ineficazes -e, às vezes, até mesmo perigosos-, as pessoas ainda não desistiram da busca otimista do sucesso sexual induzido por drogas.
Vários princípios ajudam a desmistificar algumas visões culturais sobre os afrodisíacos. Às vezes o motivo da fama legendária é evidente. Não é difícil imaginar como os órgãos sexuais de animais como cabras e coelhos, por exemplo, conhecidos por sua grande capacidade de reprodução, tenham ganho o status que gozam em algumas culturas como auxílios ao amor.
Pimentas e outros alimentos picantes são vistos como afrodisíacos porque seus efeitos fisiológicos -aceleração do ritmo cardíaco e, às vezes, transpiração- parecem com as reações físicas que ocorrem durante o ato sexual. Outros alimentos foram glorificados por seu caráter raro e misterioso. Houve época em que o chocolate era visto como o maior afrodisíaco existente, mas perdeu essa fama depois de se tornar um produto disponível para a maioria da população.
Muitos povos antigos acreditavam na "lei da semelhança". Por esse raciocínio, um objeto que se parece com a genitália deveria possuir poderes sexuais. Ginseng e ostras são dois exemplos clássicos.
A palavra ginseng significa raiz homem, e a fama de afrodisíaco que a planta desfruta provavelmente se deve à sua semelhança marcante com o corpo humano. Há séculos o ginseng é considerado revigorante e rejuvenescedor em China, Tibete, Coréia, Indochina e Índia. A raiz pode exercer ligeiro efeito estimulante, como o café. Algumas pesquisas relatam reação sexual nos animais tratados com ginseng, mas não há provas de que essa planta tenha qualquer efeito sobre a sexualidade humana.
Como se dizia que Afrodite nascera do oceano, muitos tipos de frutos do mar têm fama de afrodisíacos. As ostras são especialmente bem cotadas como estimulantes sexuais. É possível que tenham ganho essa imagem numa época em que a contribuição do zinco às dietas pobres em nutrientes era capaz de melhorar a saúde geral e, desse modo, aumentar o desejo sexual.
Talvez a busca da droga milagrosa devesse ser abandonada em favor de um mecanismo mais fácil e confiável: o estímulo erótico de nossa imaginação. Como diz a sexóloga Ruth Westheimer, "o órgão sexual mais importante está situado entre nossas orelhas".


Tamar Nordenberg é advogado do Centro de Avaliação e Pesquisas de Medicamentos do FDA (Food and Drug Administration)

Tradução Clara Allain


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