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s.o.s. família
Qual o melhor, generalista ou especialista?
rosely sayão
As escolas têm apresentado tantas fórmulas novas e diversas em seu modo de ensinar e se relacionar com os alunos que os pais
acabam ficando confusos. "Qual o melhor método de ensino?" "Como posso reconhecer se a
escola de meu filho tem estado atenta às inovações pedagógicas?" "A escola de meu filho
não faz assembléia, isso é péssimo?" Esses são
exemplos de perguntas freqüentes enviadas
por leitores com filhos na escola. Hoje, vou
comentar uma bem interessante.
Uma mãe quer saber se uma criança na escola de educação infantil ou cursando as primeiras séries do ensino fundamental ganha
ou perde tendo mais de um professor. E ela
localiza bem sua dúvida: quer saber se um
aluno dessa idade está preparado para se relacionar com tantos estilos diferentes, tantas
didáticas e modos de pensar especializados.
É bom lembrar que, em geral, os alunos têm
um professor generalista até a quarta série e,
da quinta em diante, têm vários professores
especialistas nas várias disciplinas curriculares. Mas certas escolas têm mudado esse sistema.
Algumas -e provavelmente é a uma dessas que nossa leitora se refere- introduzem
desde cedo o rodízio de professores. Em outras, no caminho inverso, as aulas ficam sob a
responsabilidade de um professor principal,
chamado polivalente, até a oitava série.
A leitora pergunta se os alunos já têm condições de se relacionar com vários professores desde cedo. Para falar bem a verdade, eles
têm. Nesta época, em que poupar filhos e alunos de situações complexas parece ser a principal intenção de pais e professores, é bom
não subestimar o potencial deles de, ao conviver com a diversidade, tirar proveito dela e
aprender. Mas a questão a se perguntar é outra.
Se a escola, desde o início, acredita que seu
papel maior é o de preparar seus alunos para
o vestibular e para o conhecimento especializado, aí ela encontra argumentos sólidos para introduzir o rodízio de professores desde a
educação infantil. Afinal, com o conhecimento tão especializado, alunos de professores especialistas só teriam a ganhar no aprendizado.
Como o conteúdo no mundo contemporâneo se desenvolve com uma rapidez impressionante, os professores generalistas são vistos como inferiores aos especializados. Eles
não teriam condições de se atualizar em várias disciplinas e, como conseqüência, os alunos sairiam prejudicados. Essa é a lógica do
pensamento que considera o conhecimento
algo compartimentado e que hierarquiza
professores.
Os universitários consideram-se professores superiores -aliás, como diz o próprio
nome "ensino superior"- aos do ensino
médio, que consideram os professores do ensino fundamental mais inferiores ainda.
Ocorre que, mais do que ter aulas com especialistas, os alunos do ensino fundamental
precisam é de professores que se debrucem
mais sobre a relação educativa e sobre o próprio aluno. No ensino fundamental, o aluno é
introduzido na cultura escolar: além de
aprender a ler, a escrever e a fazer contas,
aprende a conviver na escola, a se dedicar ao
conhecimento, a se esforçar. Aprende também a pensar e a encontrar as respostas para
as perguntas que tem. Além disso, precisa
aprender a se organizar e a se tornar um sujeito ativo ante o seu processo de aprendizagem.
Não há motivo nenhum para pressionar os
alunos com professores especialistas desde o
início da vida escolar. O que é preciso, isso
sim, é que o aluno seja acompanhado em seu
percurso escolar por um professor mais próximo a ele. E, com diversos professores, isso
fica bem mais difícil. A pergunta a fazer, portanto, tem outro sujeito. É preciso interrogar
se os professores "especialistas" estão preparados para não perder de vista o processo de
seus alunos e para não priorizar o conhecimento de "sua" disciplina.
Aos pais, deve interessar que o filho aprenda a pensar, a pesquisar, a trabalhar de modo
colaborativo, a conviver com respeito com a
orientação segura de professores que o
acompanhem.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha), entre
outros; e-mail: roselys@uol.com.br
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