São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2004
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s.o.s. família

Qual o melhor, generalista ou especialista?

rosely sayão

As escolas têm apresentado tantas fórmulas novas e diversas em seu modo de ensinar e se relacionar com os alunos que os pais acabam ficando confusos. "Qual o melhor método de ensino?" "Como posso reconhecer se a escola de meu filho tem estado atenta às inovações pedagógicas?" "A escola de meu filho não faz assembléia, isso é péssimo?" Esses são exemplos de perguntas freqüentes enviadas por leitores com filhos na escola. Hoje, vou comentar uma bem interessante.
Uma mãe quer saber se uma criança na escola de educação infantil ou cursando as primeiras séries do ensino fundamental ganha ou perde tendo mais de um professor. E ela localiza bem sua dúvida: quer saber se um aluno dessa idade está preparado para se relacionar com tantos estilos diferentes, tantas didáticas e modos de pensar especializados. É bom lembrar que, em geral, os alunos têm um professor generalista até a quarta série e, da quinta em diante, têm vários professores especialistas nas várias disciplinas curriculares. Mas certas escolas têm mudado esse sistema.
Algumas -e provavelmente é a uma dessas que nossa leitora se refere- introduzem desde cedo o rodízio de professores. Em outras, no caminho inverso, as aulas ficam sob a responsabilidade de um professor principal, chamado polivalente, até a oitava série.
A leitora pergunta se os alunos já têm condições de se relacionar com vários professores desde cedo. Para falar bem a verdade, eles têm. Nesta época, em que poupar filhos e alunos de situações complexas parece ser a principal intenção de pais e professores, é bom não subestimar o potencial deles de, ao conviver com a diversidade, tirar proveito dela e aprender. Mas a questão a se perguntar é outra.
Se a escola, desde o início, acredita que seu papel maior é o de preparar seus alunos para o vestibular e para o conhecimento especializado, aí ela encontra argumentos sólidos para introduzir o rodízio de professores desde a educação infantil. Afinal, com o conhecimento tão especializado, alunos de professores especialistas só teriam a ganhar no aprendizado.
Como o conteúdo no mundo contemporâneo se desenvolve com uma rapidez impressionante, os professores generalistas são vistos como inferiores aos especializados. Eles não teriam condições de se atualizar em várias disciplinas e, como conseqüência, os alunos sairiam prejudicados. Essa é a lógica do pensamento que considera o conhecimento algo compartimentado e que hierarquiza professores.
Os universitários consideram-se professores superiores -aliás, como diz o próprio nome "ensino superior"- aos do ensino médio, que consideram os professores do ensino fundamental mais inferiores ainda.
Ocorre que, mais do que ter aulas com especialistas, os alunos do ensino fundamental precisam é de professores que se debrucem mais sobre a relação educativa e sobre o próprio aluno. No ensino fundamental, o aluno é introduzido na cultura escolar: além de aprender a ler, a escrever e a fazer contas, aprende a conviver na escola, a se dedicar ao conhecimento, a se esforçar. Aprende também a pensar e a encontrar as respostas para as perguntas que tem. Além disso, precisa aprender a se organizar e a se tornar um sujeito ativo ante o seu processo de aprendizagem.
Não há motivo nenhum para pressionar os alunos com professores especialistas desde o início da vida escolar. O que é preciso, isso sim, é que o aluno seja acompanhado em seu percurso escolar por um professor mais próximo a ele. E, com diversos professores, isso fica bem mais difícil. A pergunta a fazer, portanto, tem outro sujeito. É preciso interrogar se os professores "especialistas" estão preparados para não perder de vista o processo de seus alunos e para não priorizar o conhecimento de "sua" disciplina.
Aos pais, deve interessar que o filho aprenda a pensar, a pesquisar, a trabalhar de modo colaborativo, a conviver com respeito com a orientação segura de professores que o acompanhem.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha), entre outros; e-mail: roselys@uol.com.br


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