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Tensão faz dente ranger e detona saúde da boca
Morder gelo ou tampa de caneta ou abusar de alimentos ácidos
são outros hábitos que podem desgastar precocemente a dentição
KARINA KLINGER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O que antes era apenas uma expressão
para indicar raiva está se transformando em um problema para ser resolvido na cadeira do cirurgião-dentista. O
ranger de dentes é um hábito cada vez
mais freqüente. É o estresse fazendo estrago na boca das pessoas.
Estima-se que cerca de 60% dos adultos
sofram de briquismo, nome atual do bruxismo e cuja origem não é totalmente conhecida. São pessoas que, inconscientemente, reagem à tensão e à ansiedade
pressionando ou friccionando os dentes.
Um engarrafamento, por exemplo, basta
para a pessoa começar a, literalmente,
ranger os dentes. O estímulo pode ser até
uma prova na escola -o briquismo associado ao estresse está afetando também crianças e adolescentes.
Para a cirurgiã-dentista Eliza Agueda
Russo, professora da USP e da Unicid, a
alta incidência de briquismo em jovens
foi a constatação mais surpreendente de
sua pesquisa, concluída recentemente.
"Sinto que a exigência em relação aos jovens está maior e que eles estão cada vez
mais estressados. A tensão tomou o lugar
das cáries, cuja incidência diminuiu."
Na avaliação de 80 pacientes de 12 a 84
anos, ela constatou que, de 1.003 lesões
bucais, 68% (684) eram causadas pelo
desgaste por estresse. Na faixa dos 12 aos
24 anos, esse percentual foi de 66%.
Além de desgaste, ranger os dentes
também provoca dor, agrava casos de
disfunção da ATM (funcionamento
anormal da articulação da mandíbula) e,
nos casos mais graves, causa até a perda
de dente. A pressão excessiva sobre a arcada pode provocar o amolecimento da
raiz, principalmente se há também problemas de oclusão -encaixe irregular
entre dentes superiores e inferiores.
A secretária Adriana Moraes, 24, começou a notar que os dentes estavam mais
sensíveis, mas não deu muita importância. "Com o tempo, percebi o desgaste
olhando no espelho. Um dente estava diferente do outro", diz. Ela teve dois dos
sintomas de briquismo (aumento da sensibilidade e desgaste), que incluem ainda
cansaço muscular no rosto, dor na mandíbula e dentes "moles" ou doloridos.
Adriana usa um aparelho muito indicado para esse caso: uma placa de acrílico
ou silicone, moldada a partir da arcada
do paciente e que evita ou, ao menos, reduz os danos. "É um aparelho funcional,
pois não queremos que esse desgaste, que
se dá de forma gradual, provoque uma
má oclusão no futuro", explica Russo.
"Antes roía as unhas, hoje arranho os
dentes", diz a comerciante Elizete Calejon, 52, que usa a placa quando dirige.
"Sou do interior e sempre preferi uma vida mais calma. No trânsito e nas filas do
banco, acabo descontando nos dentes."
Outros hábitos prejudicam a estrutura
dentária. Tomar refrigerante demais,
mordiscar tampinha de caneta, abrir embalagem com os dentes e mascar chiclete
são alguns deles. "Os
dentes são estruturas duras, mas não invencíveis", diz o cirurgião-dentista Jayme Cury, da Faculdade de Odontologia
de Piracicaba, da Unicamp.
O contato freqüente com substâncias
ácidas, como sucos cítricos, pode provocar erosão, processo químico que, gradativamente, dissolve o esmalte e a dentina,
que são os tecidos que revestem os dentes, aumentando a sensibilidade.
A saliva é a arma natural do organismo
para combater o excesso de acidez na boca, chegando a reduzir a erosão em até
50%, indica estudo feito por Cury. "O
problema é que a saliva consegue remineralizar o dente até certo ponto. Quando a quantidade de alimentos ácidos ingerida é grande e a pessoa ainda escova o
dente de forma brusca, o problema se
agrava." Essa situação é mais preocupante ainda em maiores de 45 anos. Com o
tempo, a gengiva se retrai, e a raiz fica
mais desprotegida. Se a erosão atinge a
raiz, o dente fica mole e pode cair.
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