São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2004
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foco nele

Best-seller de neuropsiquiatra chega ao Brasil

IARA BIEDERMAN
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Curar o Stress, a Depressão e a Ansiedade sem Medicamentos nem Psicanálise" (R$ 49, 320 págs., Sá Editora) será lançado neste mês, no Brasil -um best-seller que está há um ano entre os dez mais vendidos da França. Nele, o neuropsiquiatra francês David Servan-Schreiber propõe a prática de sete métodos testados e avalizados por pesquisas de centros acadêmicos e médicos respeitados internacionalmente para combater alguns dos grandes males do mundo moderno.

Folha - O seu método é destinado apenas para quem sofre de distúrbios de ansiedade ou de depressão?
David Servan-Schreiber -
Ele ajuda a todos, pelo menos para lidar com estresses naturais da vida.

Folha - Qual o eixo do tratamento proposto?
Servan-Schreiber -
Não acredito que exista um único ponto que leve ao equilíbrio, mas três pontos-chave. Um é estar em contato com a sua fisiologia e ter um certo grau de controle sobre ela, ou seja, estar em contato com seu corpo. Vivemos cada vez mais desconectados dele. Outro ponto: precisamos conduzir melhor nossos relacionamentos com a família, com as mulheres e com os homens de nossas vidas e com quem convivemos no trabalho. Nosso cérebro está ligado para ser responsável por esses relacionamentos. O terceiro ponto é que não podemos viver independentes da comunidade. Para sentirmos bem-estar, precisamos nos sentir conectados com uma comunidade maior, sentir que contribuímos de alguma forma. Você pode ter uma alimentação perfeita e fazer muito exercício, mas, se não tem relacionamentos saudáveis e o que faz em sua comunidade não significa nada, você não é um ser equilibrado.

Folha - O que fazer para conduzir melhor os relacionamentos, já que o senhor descarta as terapias verbais?
Servan-Schreiber -
No livro, eu dou os fundamentos, parecem até regras simples demais. Acho que é mais importante aprender e começar a praticar essas regras do que ficar focado no complexo de Édipo ou tentar descobrir significados ocultos nos relacionamentos. É simples, mas não tão fácil. É como o judô: você tem de praticar para ficar bom e leva toda uma vida para você ficar realmente bom.

Folha - O senhor pratica os seus métodos?
Servan-Schreiber -
Claro. Acordo toda manhã com o simulador de aurora [aparelho que simula o nascer do sol] e pratico coerência cardíaca [exercícios de respiração] por cinco minutos. Antes do café, eu corro. E, para garantir exercícios todos os dias, não ando de carro. Faço tudo com minha bicicleta. Durante o dia, tenho muito trabalho, mas tento ficar conectado, centrado. Cada vez que sinto o estresse se aproximar, pratico um pouco de coerência cardíaca. E, nos relacionamentos profissionais e pessoais, tento usar os princípios em que acredito. Faço acupuntura uma vez por mês para algum sintoma como dor muscular. Finalmente, há meu envolvimento com a comunidade, participo de uma renovação da medicina no mundo ocidental e isso me mantém em contato com outras pessoas que estão trabalhando nessa direção. Antes de dormir, tomo um suplemento de ômega 3 e pratico coerência cardíaca por 20 minutos. Eu também me divirto. O que mais gosto na vida é estar com outras pessoas. Jogo cartas, vou jantar com meus amigos e minha família, cozinho com eles, é o que gosto de fazer. Também gosto de fazer amor, como todo mundo. Essas técnicas que ensino são uma maneira de estar o mais disponível possível para os prazeres da vida. Elas não são os prazeres em si mesmas, é claro.

Folha - O ideal é adotar os sete métodos descritos no livro conjuntamente?
Servan-Schreiber -
Absolutamente. É importante que cada pessoa encontre aquilo que melhor se encaixe em sua vida. Nem todos precisam de acupuntura. E nem todos vão fazer exercício. Mas há coisas que podem ser incorporadas às suas vidas e, quanto mais forem praticadas, mais rápido as pessoas sentirão os efeitos. Há várias formas de alcançar os três pontos-chave de que falamos. Estar em contato com o próprio corpo, por exemplo, é algo que você pode fazer com a respiração profunda, com o exercício, com a alimentação. Comer de uma forma diferente, prestar atenção ao que você come, é uma maneira de estar conectado com o corpo. Os três pontos são conexão com o corpo, com as pessoas que amamos e com a comunidade. Para alguns, há um quarto ponto, do qual não falei muito em meu livro, que é a conexão com a espiritualidade.

Folha - Por que não falou?
Servan-Schreiber -
É algo muito pessoal e que deve ser protegido por cada um. É como a chama de uma vela no vento, muito frágil, todos precisam protegê-la e fazê-la crescer. Aos meus pacientes pergunto se a vida espiritual é importante para eles e, se for, encorajo-os a desenvolvê-la, mas nunca imporia isso para quem não acha a questão importante.

Folha - O que o senhor encoraja nesses casos?
Servan-Schreiber -
No mínimo, você tem de ter uma forte ligação com a comunidade, é o que substitui a espiritualidade para muitos de nós hoje. Você não pode viver só para o seu corpo e para os seus filhos ou para a sua namorada. Tem de haver algo além, um significado maior para a vida.


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