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ROSELY SAYÃO
roselysayao@uol.com.br
Outros maus-tratos
A PROCURADORA aposentada Vera Lucia Gomes, acusada de maltratar severamente
uma criança de dois anos que
pretendia adotar, já foi condenada por todos nós.
Quem é que não culpa um
adulto que humilha, impõe
castigos físicos torturantes,
destrata e agride uma criança indefesa? Por isso, nos permitimos dar à procuradora
adjetivos como louca, bruxa,
psicopata.
Em entrevistas, a acusada
reconheceu que exagerou algumas vezes no tratamento
dado à garota, mas por um
bom motivo: dar educação a
ela. E Vera Lucia fez mais. Declarou que agiu mal porque
perdeu a paciência com uma
impertinência da menina, como acontece com quase todas as mães quando estas ficam nervosas, irritadas ou estão num mau dia.
Essa declaração da acusada revela um incômodo: por
trás da tragédia que ela protagoniza se escondem milhares de dramas cotidianos vividos por crianças de todas as
idades, inclusive por aquelas
que vivem em famílias de
classe média.
Decidimos colocar as
crianças sob intensa pressão:
elas precisam aprender a se
comportar assim que os pais
ensinam, elas precisam gostar de estudar e ter êxito na
escola, elas devem aproveitar
bem o que os pais lhe oferecem e demonstrar gratidão
por isso e, principalmente,
corresponder à expectativa
de sua família.
Mas criança não aprende
de primeira e, mesmo depois
que aprende algo, irá transgredir e desafiar; criança gosta mesmo é de brincar, e não
de estudar; criança acha que
os pais têm obrigação de lhe
dar tudo o que ela quer; criança não tem autocontrole e
gosta de experimentar.
Num mundo em que a infância está desaparecendo e
em que os adultos teimam em
parecer juvenis, é quase uma
impertinência a criança se
comportar como tal, dar trabalho, exigir paciência e persistência dos adultos que a
educam.
E é por essa razão que, todos os dias, muitas crianças
sofrem: apenas porque são
crianças e os adultos se impacientam com isso.
Hoje, alguns comportamentos delas são considerados síndromes, doenças, desajustes que exigem cuidados
especializados e medicação.
Há muitas maneiras de se
maltratar uma criança. Uma
delas é não suportar que ela
se comporte como criança.
PARA LER
Como Amar uma Criança
Janusz Korczak
EDITORA Paz e Terra
QUANTO R$ 59, em média
Vale a leitura do livro de Janusz Korczak, que compreendeu
de verdade a criança e buscou
maneiras dignas de educá-la.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de
"Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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