São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002
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S.O.S. família

rosely sayão

Pais devem ser francos na hora da separação

A mãe de um garoto de 11 anos, nossa leitora regular, que diz refletir bastante sobre as idéias destas nossas conversas, pede uma orientação a respeito de sua separação e das explicações que devem ser dadas ao filho. A particularidade que nossa leitora aponta é que o pai do garoto acredita que o filho não esteja preparado para receber a notícia da separação, por isso falou que vai mudar-se para ficar mais perto do local de trabalho e que irá vê-lo frequentemente. Ela conta que o menino aceitou essa versão, mas acha que o principal fator para isso foi o fato de o pai ter prometido um videogame como compensação pela ausência. A leitora está num dilema, pois tem a convicção de que é melhor falar francamente com o filho, mas não sabe como fazer isso agora, sem colocar o ex-marido como um mentiroso.
Os filhos já foram usados como pretexto para mães sacrificarem a vida quase toda, para manter casamentos destruídos e relacionamentos desgastados. Depois dessa fase, que durou bastante, passou a valer o princípio quase inverso, o da valorização da vida pessoal dos pais. Muitos casamentos foram desfeitos, muitos relacionamentos extraconjugais foram iniciados, muitas carreiras foram alavancadas, tudo sem que os filhos fossem considerados. Creio que fica claro que as duas posições, ambas extremadas, não são boas nem para o presente nem para o futuro dos filhos. Portanto, os que se tornam pais devem tentar uma posição mais equilibrada. Afinal, se tiveram filhos, são responsáveis por eles.
A separação de um casal sempre é possível de acontecer. E, para os filhos, essa não é mesmo uma boa notícia. Mas eles são muito mais antenados do que parece, muito mais sensíveis do que imaginamos para captar clima de desentendimento entre os pais. Nossa leitora tem razão: uma conversa franca, simples e direta, sem muitas explicações, talvez seja a melhor solução, principalmente quando a criança tem a idade do filho dela. Até mesmo para filhos menores é preciso uma palavra não enganosa para explicar a ausência de um dos pais, que costumava estar bem mais presente antes da separação. Os pais só não devem cometer o equívoco de se alongar nos detalhes e explicar os motivos da separação. Isso faz parte apenas da vida dos pais, e os filhos precisam ser poupados desse constrangimento.
Bem, mas o caso é que muitos pais, mesmo depois de tomarem a decisão da separação, mesmo depois de ponderarem todas as possibilidades e fazerem o que acham ser a melhor escolha, sentem-se em dívida com o filho. E, para aliviar esse sentimento que leva a outro -a culpa-, procuram maneiras de compensar o filho. Infelizmente, neste nosso estilo de viver, em que o consumo tem sido tão priorizado, quase sempre a saída encontrada pelos pais é usar a sedução dos presentes como uma prótese a ser usada para compensar sua ausência. Por que as crianças aceitam -de bom grado- esses mimos, é fácil de entender. Mas essa atitude corrompe os filhos. E não resolve, para eles, a falta rotineira de um dos pais.
Os filhos vão sentir a separação, podem encontrar uma maneira de fazer com que ela não seja determinante de seu modo de sentir, de sofrer, de amar. Para que isso aconteça, os pais precisam colaborar. Por mais estressante que seja a separação para o casal, os pais precisam fazer um parêntese nos desentendimentos para lidar com tudo o que se refere aos filhos. É preciso que saibam se unir para, pelo menos, dar conta da tarefa de educar as crianças. Nenhum pai ou nenhuma mãe pode divorciar-se da responsabilidade com os filhos.
No caso de nossa leitora, o melhor é tentar novamente -e quantas vezes forem necessárias- encontrar a saída junto com o pai do garoto. Claro que é difícil realizar essa tarefa. Exige um esforço imenso, mas suportável e necessário. E é bom lembrar que o adulto consegue fazer isso. Basta ter maturidade para colocar os filhos como prioridade e, assim, superar outras questões menos importantes.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br


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