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NEUROCIÊNCIA
Suzana Herculano-Houzel
Primeiras impressões
Já deve ter acontecido
com você: encontramos uma pessoa pela
primeira vez e, imediatamente, "vamos com a
cara dela" -ou, ao contrário,
alarmes tocam sinalizando
que devemos manter distância. Tais avaliações à primeira vista costumam ser surpreendentemente precisas e consistentes: uma vez soado,
um alarme dificilmente se
desliga, assim como uma primeira impressão positiva
tende a se reafirmar.
Obra do cérebro, claro.
Mas como ele pode tomar
partido tão rapidamente?
Além do mais, talvez você
não se importe com a preguiça de um recém-conhecido
se ele tiver outras qualidades, mas eu posso achar essa
preguiça indesejável o suficiente a ponto de inviabilizar
qualquer impressão positiva.
Cada pessoa dá valor a características diferentes -mas o
que pessoas diferentes têm
em comum em sua maneira
de fazer isso?
"A ativação de duas partes
do cérebro" é a resposta do
grupo da neurocientista Elizabeth Phelps, da Universidade Tufts, nos EUA. O grupo mostrou a voluntários várias listas de qualidades positivas e negativas que descrevem um desconhecido. Ao
ver a lista, pessoas diferentes
dão maior ou menor importância a qualidades diferentes -e, assim, umas formam
uma primeira impressão positiva e outras, negativa do
mesmo desconhecido. O que
torna uma informação relevante para uns, mas irrelevante para os outros? Uma
série de fatores relacionados
a experiências prévias e valores pessoais, certamente.
Mas tudo isso deve convergir sobre o córtex cingulado
posterior e a amígdala (do cérebro, não da garganta), ativados de modo consistente
entre os voluntários quando
eles formam suas primeiras
impressões: quanto mais
eles respondem a descrições
positivas sobre um desconhecido, mais se gosta dele;
quanto mais respondem a
descrições negativas sobre a
mesma pessoa, menos se
gosta dela. Essas partes do
cérebro, portanto, indicam a
saliência de uma informação
social -como um lembrete
ao resto do cérebro que diz
"isto é importante, leve em
consideração!".
O mais interessante é que
o cingulado posterior e a
amígdala são estruturas que
sabidamente fazem avaliações emocionais, muitas vezes inconscientes, e não racionais. Ou seja, com base em experiência prévia, eles formulam e dão sua opinião ao
resto do cérebro -pouco importa se você acha aquilo racionalmente apropriado ou
não. Resultado: gostamos ou
desgostamos de alguém à
primeira vista -e, então, ficamos tentando entender
por quê...
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora do livro
"Fique de Bem com o Seu Cérebro" (ed. Sextante) e do blog "A Neurocientista de Plantão"
( www.suzanaherculanohouzel.com )
suzana.herculano-houzel@grupofolha.com.br
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