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S.O.S. família
rosely sayão
Cumplicidade entre mãe e filho atrapalha
Muitos pais e mães têm escrito para solicitar ajuda para compreender os filhos e
agir melhor com eles na educação que praticam. Peço paciência, pois não dá para atender a todos rapidamente, mas, de alguma maneira, os assuntos serão abordados. O artigo de hoje, por exemplo, foi motivado pela carta de
uma leitora que tem uma filha de oito anos.
Essa jovem mãe foi surpreendida recentemente pelo comentário de uma vizinha, que
viu a sua filha beijando na boca um colega da
mesma idade. Nossa leitora duvidou, mas não
deixou de conferir. E não é que constatou ser
verdade? Agora, pediu ajuda por não saber como conversar e agir com a filha. Mas é justamente de um provável efeito colateral da situação que ela tem mais receio: da reação do
marido, pai da garota, quando souber do
acontecido. E, por conta disso, ela se pergunta
se deve contar a ele ou não.
Vamos falar, em primeiro lugar, dessa cumplicidade que frequentemente se estabelece
entre mães e filhos e que coloca os pais de fora
do relacionamento. As mães sempre têm excelentes razões para explicar por que é necessário, às vezes, esconder do pai da criança ou
do adolescente as más-criações, reinações e
transgressões mais atrevidas que eles cometem. Elas dizem que o homem é mais impaciente, menos tolerante, mais agressivo, menos compreensivo, mais rígido e que, por isso,
é preciso proteger o filho das repreensões mais
duras e nem sempre adequadas que poderiam
partir do pai. Mas será mesmo verdade o que
as mães dizem? Nem sempre. O que há é uma
grande diferença entre o estilo da mãe e o do
pai de exercer a autoridade.
Claro que não podemos esquecer que nossa
cultura é machista, o que, para muitos pais,
pode dificultar a tomada de uma atitude isenta
-principalmente quando se trata da educação das filhas. É a preocupação de nossa leitora. Outro fator que não podemos relevar é o
costume de a mãe assumir sozinha a responsabilidade pela proteção dos filhos, enquanto
o pai assume com mais tranquilidade o lado
repressivo da educação. Quem não conhece a
famosa e ameaçadora frase: "Olha, que eu vou
contar a seu pai!", que visa justamente conter
o filho? Esses fatores, somados a outros, podem realmente dificultar a relação dos pais
com o processo educativo dos filhos. Mas cabe
principalmente às mães auxiliar nessa mudança. Enquanto as mães acreditarem que
não podem contar com os maridos, elas praticamente determinarão que a situação continuará sempre assim. E vamos falar a verdade:
elas até que têm um ganho com essa atitude,
que é o de manter o filho mais próximo delas.
Mas é bom saber que o maior problema dessa exclusão do pai que as mães promovem não
é, como muitos pensam, o da consequente ausência do pai na vida dos filhos. É pior. É a
criança acreditar que ela tem uma relação de
exclusividade com a mãe. Ora, quem tem de
ter esse tipo de relação com a mulher é o marido, não os filhos! Portanto a cumplicidade da
mãe com os filhos, em qualquer assunto, não é
uma atitude salutar para a criança.
Por isso nossa leitora citada hoje deve, sim,
conversar com o marido sobre o que aconteceu, já que está tão aflita. Mas ela deve entender que não se trata apenas de contar ao pai
uma coisa errada que a filha fez, mas, sim, de
tentar compreender o que a filha fez e encontrar, junto com ele, uma solução. Ela precisa
contar com o risco de o marido ter uma reação
muito dura. Mas é no diálogo entre eles que
essa reação pode ser amenizada.
E qual a atitude mais sensata a adotar com
essa garota? Não é preciso fazer drama nem
dar broncas ou castigos. A filha precisa apenas
saber que os pais estão atentos ao que acontece com ela, sempre prontos a orientar. E orientar não significa apenas falar, claro. Significa
agir. A menina precisa saber que beijo na boca
não é coisa que deva acontecer entre crianças e
que, por isso, os pais não vão mais permitir
que isso aconteça. E, para que a menina se
contenha, ela deve ser acompanhada mais de
perto pelos pais, pelo menos por um período.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br
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