São Paulo, quinta-feira, 02 de julho de 2009 |
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ROSELY SAYÃO Jovens perdidos sem GPS
Um jovem me disse que se considera um consumidor voraz e dependente da tecnologia portátil. Ele conta que aonde vai carrega seu arsenal: telefone celular com múltiplas funções, tocador de músicas, Gameboy, acessórios, diversos pen drives, GPS etc. Está permanentemente conectado à internet e envia e recebe centenas de mensagens eletrônicas por dia, sem contar o uso de programas de comunicação por imagem e voz. Ao final, ele se perguntou se o uso de tanta tecnologia facilita sua vida ou se a torna mais complexa. A presença da tecnologia em nossas vidas modificou nossa maneira de conduzir muitas questões. São poucas as pessoas que poderiam viver sem seu celular para falar várias vezes ao dia com a mesma pessoa. As crianças e os adolescentes, por exemplo, não precisam ficar horas sem comunicação com os pais -que sempre atendem a seus telefonemas no celular. O motivo das ligações? Os filhos querem saber o horário em que os pais devem chegar, reclamar de seus cuidadores, saber o que comerão no jantar e outros assuntos corriqueiros. Uma mãe reclamou do número enorme de telefonemas diários dos filhos e eu lhe perguntei por que os atendia. Ela disse que sempre temia que fosse algo urgente, só que isso nunca havia acontecido. Mas a tecnologia se entranhou tanto em nossas vidas que agora não apenas a usamos como também, tão influenciados por ela, a imitamos. Vamos considerar a relação que os pais têm com os filhos. Algumas décadas atrás, era consenso que educar significava mostrar aos filhos como é a vida e dar a eles algumas direções a serem seguidas, pelo menos temporariamente. Os pais eram a bússola dos filhos. Apontar sempre a direção a seguir -a do grupo familiar- era a função que exerciam. Os valores, princípios morais, costumes, tradições e virtudes que a família priorizava eram a direção. Ao chegar à maturidade, com autonomia e conhecedores do norte familiar, os filhos poderiam escolher que direção seguir. Pois bem: o mundo mudou, e a relação dos pais com seus filhos também. Hoje, não basta ensinar a respeito da vida. Os pais querem ensinar aos filhos como eles devem viver. De bússola dos filhos, os pais passaram a ser seu GPS. Esse aparelho, que hoje tanta gente usa, não fornece apenas orientação; é principalmente um sistema de navegação que informa trajetos ponto a ponto. E mais: também mostra como sair de um trânsito pesado, por exemplo, e como evitar determinadas vias. O GPS resolve todos os problemas de quem transita pelas caóticas cidades em que vivemos. Se você pensar bem, tem sido essa a atuação dos pais. Não há dúvida de que, para os filhos, a situação é bem confortável. Entretanto, há um problema. Quando o sistema deixa de funcionar ou é desligado, deixa seu usuário completamente desorientado se ele não conhecer o local onde está e aonde quer ir. Talvez essa seja uma das causas da adolescência estendida: os jovens ficam andando em círculos e perdidos sem o GPS. ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha) rosely.sayao@grupofolha.com.br
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