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Relembrar a vida melhora a auto-estima
MIRNA FEITOZA - FREE-LANCE PARA A FOLHA
"À medida que o ser humano envelhece, ele precisa saber
que sua vida teve algum significado, que não transcorreu
em vão."
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Aos 83 anos, James Birren já se
aposentou três vezes, mas preferiu seguir a vida com o que mais
gosta: aprender coisas novas com suas
pesquisas. Em 1977, ele criou o método
da autobiografia orientada, voltado para
pessoas de meia e terceira idades. Professor da Universidade da Califórnia -onde é diretor associado do Centro de Estudos do Envelhecimento-, Birren é um
dos mais renomados especialistas em
envelhecimento da atualidade, com mais
de 250 publicações sobre o assunto, entre livros e artigos. Nos últimos dias, o
professor norte-americano esteve no
Brasil pela primeira vez e deu palestras
em São Paulo e no Rio de Janeiro sobre
seu método, que já ajudou cerca de 900
pessoas a passar a vida a limpo.
Folha - O que é autobiografia orientada?
James Birren - É um método que ajuda
as pessoas a recordar acontecimentos de
suas vidas, organizando-os em uma autobiografia que pode ser usada em família ou de outras formas. O método tem
por finalidade evocar e guiar a memória,
levando os participantes a examinar suas
lembranças a partir da perspectiva do
presente.
Folha - Como funciona o método?
Birren - As pessoas discutem questões
sobre temas básicos da vida, e essas questões evocam a memória delas. A cada semana, elas escrevem duas ou mais páginas sobre um tema, como família, trabalho, dinheiro, saúde, caminho espiritual.
Depois, os grupos são divididos. Um de
25 pessoas, por exemplo, é dividido em
grupos de cinco, e os participantes compartilham suas histórias.
Folha - Quais são os benefícios da autobiografia orientada?
Birren - Revisar ou relembrar a vida é
um processo essencial à trajetória dos
adultos idosos. À medida que o ser humano envelhece, ele precisa saber que
sua vida teve algum significado, que não
transcorreu em vão. O método aumenta
a auto-estima por meio da autodescoberta e do reconhecimento de ter sobrevivido a milhares de problemas, e é preciso
lembrar que a auto-estima é um dos elementos mais importantes para a longevidade humana. O método possui outros
benefícios psicológicos e físicos explícitos: esclarece paradoxos, contradições e
ambivalências da própria vida; restaura o
sentido de auto-suficiência, a identidade
pessoal e o bom humor; cria novos relacionamentos sociais duradouros; estimula a atividade mental; diminui a depressão; baixa a pressão; faz o coração
bater menos acelerado.
Folha - Em que momento da vida a autobiografia é recomendada?
Birren - O método é usado por aposentados ou pessoas que estão para se aposentar. Em meus grupos, as idades variam de 40 a 90 anos. Pessoas de meia-idade se interessam pela autobiografia
orientada quando os filhos saem de casa
ou a carreira se estabiliza. O método também é útil em momentos de transição,
em qualquer fase da vida, para dar às pessoas uma perspectiva de onde elas estiveram, onde estão e aonde elas gostariam
de chegar em breve na vida. Parafraseando o filósofo dinamarquês Kierkegaard,
"você vive sua vida progressivamente,
mas a entende retrospectivamente".
Folha - Que autobiografia foi mais especial para o senhor?
Birren - Algumas autobiografias de veteranos de guerra são assustadoras. Eu
conheço um veterano que teve sua laringe removida. Ele usa uma caixa de voz, na
qual datilografa suas palavras, e esse aparelho as reproduz para o grupo com uma
fala monótona.
Folha - As pessoas podem mentir nas autobiografias?
Birren - Se as pessoas mentem para elas
mesmas, elas podem mentir nas autobiografias. A verdade é largamente substituída. Digo aos grupos que o que eles dizem deve ser verdadeiro, mas eles não
têm de dizer toda a verdade.
Folha - Há situações em que é melhor esquecer o passado?
Birren - Na maioria das vezes, o passado
se torna melhor quando trazido para o
presente, mas muitos acontecimentos
dolorosos do passado podem ficar enterrados. As pessoas têm consciência de
quando uma coisa está pronta para vir à
superfície para ser compartilhada.
Folha - O senhor já começou a fazer sua
autobiografia?
Birren - Sim, sou membro de um grupo
de homens que estão fazendo suas autobiografias.
Folha - E já pensou em se aposentar?
Birren - Tenho 83 anos. Fiz pesquisas
nas áreas de psicologia e psicologia do
envelhecimento em toda a minha carreira. Já me aposentei três vezes, mas me divirto mesmo aprendendo novas coisas
com meu trabalho. Espero publicar dois
novos livros neste ano.
Folha - O idoso vive melhor hoje em dia?
Birren - Sim, existe uma revolução internacional da idade a caminho. As
crianças, que costumavam ser a maior
parte da população, e as pessoas mais velhas, que costumavam ser a menor parte,
estão mudando de posição. Estudos de
centenários mostram que há pessoas acima dos cem anos vivendo sozinhas e sustentando a si próprias. Nós nos demos o
presente da vida longa, mas há incerteza
sobre como usá-lo. A autobiografia
orientada é um passo em direção à geração de novos pensamentos sobre a vida
longa e sobre como vivê-la bem.
foco nele
Nome:
James Birren
Idade:
83 anos
Profissão:
professor universitário e pesquisador
O que faz:
orienta pessoas de
meia e terceira idades a fazer
suas autobiografias
Filosofia de vida:
ser otimista
em relação ao futuro, devido à
capacidade do ser humano de
se adaptar, mesmo com tantas
condições ameaçadoras, e de
criar novas soluções
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