São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2011
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O caminho até o vício

Ninguém sabe como e quando o consumo 'social' e aceitável de bebida vai evoluir para a doença crônica do alcoolismo, mas já é possível avaliar a taxa de risco do uso abusivo

Eduardo Knapp/Folhapress
C.W.N,32, na clínica de reabilitação
Maia, Grande São Paulo


GUILHERME GENESTRETI
IARA BIDERMAN
JULIANA VINES

DE SÃO PAULO

Pela primeira vez, um estudo brasileiro mostrou, em números, o risco de uma pessoa que abusa do álcool desenvolver a dependência.
A taxa é alta: um a cada três bebedores abusivos vai passar para o estágio de doença crônica, conforme a classificação da Organização Mundial da Saúde.
"O diagnóstico de abuso é uma ótima oportunidade de reduzir o número de dependentes. As medidas para reverter o problema são mais fáceis [do que na dependência] e as taxas de sucesso, maiores", afirma a autora do estudo, a psiquiatra Camila Magalhães Silveira, do Instituto de Psiquiatria da USP.
A pesquisa, feita com 5.037 pessoas na região metropolitana de São Paulo, foi publicada na "Alcohol and Alcoholism", revista oficial do Conselho Médico em Álcool do Reino Unido.
Além de facilitar a prevenção, a identificação do abuso eleva as chances de mudança no padrão de consumo.
"Se ainda não há dependência, as medidas muito restritivas não são as melhores. Muitas vezes, não é necessário chegar ao médico, basta uma pessoa preparada para usar uma técnica que a gente chama de intervenção breve", diz Silveira.

'FIESTA DRINKING'
Não é fácil perceber os limites entre o uso regular e o abusivo. "O Brasil tem um padrão de consumo conhecido internacionalmente como 'fiesta drinking', que é beber no fim de semana em quantidade excessiva. A cultura não é a do [beber] moderado, é a do ficar embriagado."
O psicólogo Luciano Oliveira, que atende na clínica de reabilitação Maia, na Grande São Paulo, afirma que muita gente começa bebendo todo final de semana, passa a beber no meio da semana e não percebe quando está ultrapassando seu limite.
"A pessoa perde o passo da realidade, não consegue mais identificar seus sentimentos. E vai empurrando a doença para frente."
Como a dependência se desenvolve aos poucos, a pessoa cria estratégias e rituais para afirmar, para si e para os outros, que não está doente -como mostram os depoimentos a seguir.


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