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Casar ou comprar uma bicicleta?
Para a economista e psicóloga Sheena Iyengar, quanto mais opções temos, maiores são as chances de fazermos escolhas erradas
MARIANNE PIEMONTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Escolher foi sempre uma questão, para a psicóloga e economista Sheena Iyengar.
Filha de imigrantes indianos nascida no Canadá, ela cresceu nos Estados Unidos.
Fora de casa, aprendia que tomar decisões era bom; dentro, essa atitude era considerada "rebeldia".
Hoje, aos 41, a professora
de economia da Universidade de Columbia diz que sua
adolescência foi puro conflito. "Era difícil entender por
que eu tinha de usar jeans na escola e sári em casa."
Aos 13, Iyengar perdeu a
visão devido a uma doença
degenerativa. Algumas de
suas escolhas passaram a depender de descrições dos outros -tipo na hora de pintar
as unhas com "rosa "glamour" ou rosa "mulher estonteante'", como disse à Folha.
Não à toa, já no primeiro ano da Universidade de Stanford ela mergulhou no tema
que a tornaria conhecida mundialmente: escolha.
Seu "The Art of Choosing"
(leia ao lado) está entre os
melhores livros de negócios
do ano (embora transcenda o
gênero) e a levou para palestras por mais de 30 países.
"Vivemos na era Starbucks, nos dizem que a felicidade está na escolha, mas é
mentira. Quem tem muita opção escolhe a pior", diz.
Para ela, não somos ensinados a decidir. "Essa falta de
preparo acarreta dores e inseguranças por toda a vida."
Leia trechos da entrevista.
Folha - Como o tema da escolha se torna importante para
quem vem de uma cultura na
qual os pais decidem até com
quem as filhas vão se casar?
Sheena Iyengar - Como
criança de família imigrante,
vivi dois mundos simultaneamente. Em casa, eu era
sikh [de siquismo, religião
monoteísta da região do Punjab]. Na escola, era americana e me diziam para batalhar
pelos meus ideais. Mas, em
casa, havia minhas obrigações familiares. Viver entre
duas culturas foi conflitante
para mim. Qual estava certa?
Pessoalmente, ainda tento
resolver esse conflito. Mas
profissionalmente, como
pesquisadora, me senti muito atraída em "escolher" esse
tema, justamente impulsionada pela minha educação.
Vivemos a era das oportunidades de escolha, com a internet. Isso não é bom?
Não, se não soubermos
identificar as diferenças entre o que nos é oferecido, o
que é muito difícil quando a
Amazon nos oferece 27 milhões de livros, o Walmart
anuncia mais de 100 mil produtos e o site de relacionamentos Match.com diz ter 15
milhões de opções de encontros para você. É menos
atraente na prática do que na
teoria. Para quem não sabe o
que quer, a oportunidade de
escolha sufoca, prende, amedronta e angustia.
Como? A escolha não liberta?
Nem sempre. Fomos ensinados a acreditar que poder
escolher é algo libertador,
mas muito frequentemente é
um limitador. Há uma renúncia em toda escolha. Nos ensinaram também que poder
ter escolha é sempre algo
bom e que o simples fato de
ter decidido já é uma atitude,
o que é muito reverenciado
em nossa sociedade. Porém,
algumas escolhas limitam
nossos comportamentos, nos
deixam confusos e infelizes.
No seu livro você diz que
quanto mais opções temos,
maiores as chances de escolhermos a pior. Em que situações isso costuma acontecer?
Quando as pessoas têm
muitas opções se torna difícil
determinar quais as diferenças entre as ofertas, o que leva à confusão e pode resultar
em decisão precipitada ou errada. Um exemplo pode ser a
compra de um carro.
Se você comparar dez tipos e
não entender muito de carros, isso pode ser muito desgastante. Essa confusão pode levá-lo a escolher aquele
de que você não gosta.
Como escolher melhor?
Você deve ser exigente em
suas escolhas. Decidir exige
esforço. Tente fazê-las pensando no que é realmente importante para você. E quando
escolher use sua "intuição
informada", que nada mais é
do que usar seu instinto, o
impulso que o leva àquela
decisão, misturado à apuração e à informação sobre o
assunto. Não tema usar papel e caneta para anotar prós
e contras ou dividir em pontos positivos e negativos. Estudos sugerem que quem escolhe um lugar para morar
ou companheiros de casa
dessa maneira costuma ser
bem-sucedido. Esse é o método que altos executivos usam
para contratar ou demitir. Se
você aprender a usar esse
método simples irá sofrer
menos e escolher melhor.
Sobre escolhas difíceis: o que
pensa da eutanásia?
As duas coisas que mais
valorizo são a vida e a escolha. O que fazer quando uma
é posta contra a outra? Escolher a morte pode parecer falta de escolha para alguns,
mas, no entanto, pode ser
também a escolha mais importante a se fazer na vida.
Você contou como escolheu
entre dois tons de rosa para
pintar a unha, já que não vê.
Você decidiu pelo nome que a
marca deu ao esmalte...
As marcas tentam nos convencer de que seus produtos
são diferentes dos outros. É
preciso estar atento e medir
sempre, porque eles nem
sempre são tão diferentes.
Dinheiro ajuda a escolher?
Não há nenhuma razão
para acreditar que quem tem
dinheiro faz melhores opções
na vida ou carreira.
"The Art of Choosing" Sheena Iyengar fala sobre como a falta de escolhas pode prejudicar a saúde e o excesso pode paralisar a tomada de decisões. Segundo ela, o ser humano tem necessidade biológica de escolher. Iyengar sustenta sua tese com referências que vão desde o filósofo argelino Albert Camus até o filme 'Matrix'. O livro ficou entre os finalistas do prêmio Financial Times Business Book of the Year 2010.
Editora Grand Central, 352 págs., R$ 59,90
no site da Livraria Cultura
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