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CUIDADO: 'BURN OUT'
Conhecida como a doença dos idealistas, esta síndrome é desencadeada por situações estressantes e caracteriza-se por uma desilusão profunda em relação ao próprio trabalho
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GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO
Perfeccionismo é fator de
risco para esta doença insidiosa, que ataca a motivação
de gente que rala, sem distinção de cargos hierárquicos.
O "burn out", termo que
em inglês designa a combustão completa, está incluído
no rol dos transtornos mentais relacionados ao trabalho. Foi a terceira maior causa de afastamento de profissionais em 2009, segundo
dados da Previdência Social.
A síndrome é bem mais
que "mero" estado de estresse, não pode ser confundida.
Esse transtorno psíquico
mescla esgotamento e desilusão. Pode ser desencadeado por uma exposição contínua a situações estressantes
no trabalho, explica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente no Brasil da Isma (International Stress Management Association), entidade
que pesquisa o "burn out".
"A doença é gerada pela
percepção de que o esforço
colocado no trabalho é superior à recompensa. A pessoa
se sente injustiçada e vai se
alienando, apresentando
sintomas como depressão,
fobias e dores musculares."
É a doença dos idealistas,
diz Marilda Lipp, do Centro
Psicológico de Controle do
Stress e professora de psicologia da PUC-Campinas.
"O 'burn out' é um desalento profundo, ataca pessoas dedicadas demais ao
trabalho, que descobrem que
nada daquilo pelo que se dedicaram valeu a pena."
O estresse, compara Lipp,
tem um componente biológico forte, ligado a situações
em que o corpo tem de responder ao perigo. Já o "burn
out" é um estado emocional
em que a pessoa não sente
mais vontade de produzir.
"Tem a ver com o valor depositado no trabalho", diz
Lipp. "Quem apresenta
exaustão emocional, não se
envolve mais com o que faz e
reduz as ambições pode estar
sofrendo do transtorno."
O diagnóstico não é fácil: a
apatia gerada pelo "burn
out" pode sugerir depressão
ou síndrome do pânico.
Médicos, professores e policiais são grupos de risco,
diz Duílio de Camargo, psiquiatra do trabalho ligado ao
Hospital das Clínicas.
DESMAIOS
O professor Cláudio Rodrigues, 43, entrou em combustão total por duas vezes. Começou como um estresse,
que foi se acumulando ao
longo de dez anos.
Ele lecionava 13 horas por
dia numa escola da zona sul
de São Paulo. E se frustrava
com salas lotadas e alunos
desinteressados, conta.
"Via um aluno meu entregando pizza junto com alguém que nunca tinha estudado. Eu me sentia impotente como professor". Deprimido, se manteve afastado das
salas por dois anos. Em 2004,
depois de receber acompanhamento psiquiátrico e tomar medicação, voltou. Em
maio deste ano, recaiu.
"Nada tinha mudado na
escola, estrutura péssima. Eu
me sentia responsável por estar levando todos os alunos a
um caminho sem futuro."
No meio de uma aula, o
professor começou a suar e
sentir o corpo ficar mole.
Saiu e desmaiou na escada.
Na semana seguinte, enquanto caminhava para o
trabalho, desmaiou de novo.
Está afastado desde então.
"Sinto uma insatisfação
por ver que o meu trabalho
não vale a pena", desabafa.
A vigia Lucimeire Stanco,
34, também passou um tempo licenciada por causa de
"burn out". Em 2006, ela fazia a ronda noturna em um
colégio da zona leste. Passava a noite só e por duas vezes
teve que se esconder quando
tentaram invadir o lugar.
"Sentia desânimo porque
não me tiravam daquela situação. Me sentia rejeitada,
vítima." Ela se tratou e se readaptou. Hoje, só trabalha de
dia, e acompanhada de outros vigias.
Casos como esses são tratados com psicoterapia e antidepressivos mas, segundo
Marilda Lipp, a medicação só
combate os sintomas.
"A pessoa precisa reavaliar o papel do trabalho em
sua vida, aprender a dizer
não quando não tem condições de executar algo e reconhecer o próprio valor, mesmo que outros não o façam."
FACA NA GARGANTA
"Eu era infeliz e não sabia", afirma a empresária
Amália Sina, 45. Hoje ela é a
dona do negócio, mas há
quatro anos, era a vice-presidente, na América Latina, de
uma multinacional e responsável pelas atividades da empresa em 22 países.
"Dava aquela impressão
de que o mundo girava em
torno do trabalho, sempre
com a faca na garganta", diz.
Para a empresária, o apoio
que teve da família e a prática
de exercícios a ajudaram a
suportar as pressões. Até ela
deixar a função executiva.
A empresária adotou a estratégia correta para prevenir
um "burn out", segundo o
psiquiatra Duílio de Camargo. "A pessoa chega a esse
estado sem saber o que tem.
Se não tiver acolhimento da
família, o desconforto aumenta."
Na visão de Eugenio Mussak, fisiologista e professor
de gestão de pessoas, as providências para prevenir essa
patologia do trabalho devem
partir tanto do sujeito quanto
da empresa.
Segundo Mussak, todo
mundo que trabalha bastante deve se permitir algumas
atividades diárias cuja única
finalidade seja o prazer, para
compensar o clima estressante. E se o ambiente de trabalho puder criar um "estado
de férias", melhor ainda.
"Chefes compreensivos,
que valorizam o esforço e respeitam os limites de seus subordinados criam um ambiente menos favorável ao
"burn out'", diz o professor.
Ele continua: "É preciso
respeitar o limite entre o que
é profissional e o que é pessoal, e a empresa deve estimular o trabalhador a respeitar esses limites também."
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