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s.o.s família - rosely sayão
Como a escola mata a vontade de aprender
Com o semestre letivo chegando ao fim, dependendo do rendimento escolar do
filho, muitos pais pensam na possibilidade da transferência, ou seja, de procurar uma outra escola que permita que ele renda mais. O interessante é que toda a correspondência que recebi sobre o assunto aponta uma característica
da escola como sendo a principal questão: o
quanto a escola "puxa", ou seja, o que é exigido do aluno no que se refere ao conhecimento.
Existe pai que acredita que a escola puxou
demais e o filho reagiu mal a isso, e existe pai
que avalia o contrário, ou seja, esperava que a
escola fosse mais exigente.
Há sentido nessa preocupação hoje: os ensinos fundamental e médio são vistos por muita
gente como mera preparação para o vestibular, o que é lamentável. Por isso a escola que
prioriza o conteúdo das disciplinas faz tanto
sucesso entre muitos pais e professores também. Eu torço para que o nosso atual ministro
da Educação consiga levar adiante a proposta
de reduzir para duas disciplinas o exame vestibular: língua portuguesa e matemática. Essa
seria uma excelente maneira de ajudar a própria escola a rever seu papel. E qual é ele?
Em primeiro lugar, a escola precisa manter e
instigar no aluno a curiosidade, a vontade de
aprender. Infelizmente, muitas escolas recebem alunos ávidos por conhecimento e conseguem aniquilar esse desejo de aprender, que é
natural que eles tenham. É incrível, mas isso
acontece muito mais do que imaginamos.
A escola deve ensinar o aluno a pensar, a
pesquisar, a se dedicar a procurar as respostas
para as questões que o conhecimento suscita.
Hoje, a escola está mais preocupada em dar as
respostas para fazer o aluno aprender.
Isso não leva a quase nada, já que a equação
"professor precisa ensinar e aluno deve aprender" fica fechada em si mesma e, portanto,
mata o que é mais importante, que é a vontade
do aluno de aprender. Isso é que mantém a
possibilidade de o aluno estudar.
Mas a escola precisa também ensinar o aluno a ter uma postura que lhe permita ter acesso ao conhecimento. Muitas escolas não fazem nada nesse sentido, principalmente porque acreditam que o aluno deve chegar à escola com essa questão já resolvida. Não! É papel
dos mais importantes da escola propor -e
muitas vezes impor- condutas, comportamentos e atitudes que facilitem o acesso ao conhecimento. Todos sabemos que é preciso
disciplina para estudar, não é? É essa disciplina que a escola deve desenvolver em seus alunos e exigir deles.
Estive recentemente na Escola da Ponte, em
Portugal, conhecida por praticar um projeto
educacional radicalmente diferente dos conhecidos. Lá, o aluno se desenvolve e aprende
com liberdade e em seu ritmo, já que não há
classes divididas por séries, idades ou coisa semelhante. Uma das coisas que mais me impressionou foi exatamente a maneira como os
professores ajudam os alunos a adquirir a postura que facilita o acesso à aprendizagem e de
como ensinam a pesquisar, a pensar e a raciocinar. Em uma semana por lá, não vi nenhum
professor dar uma resposta sequer para as
questões dos alunos. Vi, isso sim, os professores darem orientações que levavam o aluno a
chegar à resposta desejada. E -o mais importante- lembravam os alunos e os cobravam a
todo momento a disciplina que o conhecimento exige.
A mãe que escreveu querendo saber se deveria ou não trocar de escola o filho, que está desanimado e até inibido por não conseguir
acompanhar o ritmo por ser muito puxado,
deve procurar saber se a escola está ajudando
o aluno a dar conta do estudo. Como disse o
professor José Pacheco, diretor da Escola da
Ponte, "não há alunos com problemas de
aprendizagem, há escolas com problemas de
ensino". Os pais que querem uma escola mais
puxada devem se lembrar de uma coisa: esses
conteúdos aprendidos no ensino fundamental
e médio logo mais serão esquecidos e se tornarão desnecessários. Mas quem aprende a estudar, a pesquisar e a pensar e quem se sente desafiado a aprender carrega esse patrimônio até
o fim da vida, e não apenas da vida acadêmica.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail:
roselys@uol.com.br
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