São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2008
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ROSELY SAYÃO

Ranking de pais

Muitas escolas comprometidas, que realizam um projeto de trabalho claro, em busca de uma prática mais coerente com suas propostas teóricas e de aprimoramento, estão pressionadas por causa do resultado do Enem.
Desde que há um ranking de escolas usando resultados de exames desse tipo, elas são avaliadas pela comunidade de acordo com a posição alcançada. As escolas consideradas de maior qualidade são as que estão pelo menos entre as 15 primeiras. E tem mais: agora se faz também a relação entre a mensalidade e o ranking, pode?
O resultado do exame não pode ser descartado por completo, é claro, mas também não deveria ser levado tão a sério quanto tem sido. Afinal, o trabalho escolar realizado por oito anos (agora nove) no ensino fundamental e, depois, no ensino médio não pode ser computado em uma prova. Por quê?
Ora, porque alguns alunos não produzem tudo o que sabem por ficarem tensos em situação de prova, outros por ainda não terem se acostumado a passar por avaliação de forma ritualística, outros porque não estão no melhor dia quando fazem a prova, outros ainda porque não dão valor à avaliação.
Claro que também há alunos que não apresentam resultados melhores porque a escola não realiza a contento seu papel.
Mesmo assim, isso não pode ser deduzido apenas pela prova. A escola não é só instrutora de conteúdo, certo?
Uma colega educadora profissional, muito espirituosa, manifestou de forma bem-humorada sua crítica ao estardalhaço que se faz com o tal ranking de escolas. Ela disse que os pais só entenderiam o que significa isso se fizéssemos também um ranking de pais.
Adorei a idéia. Aliás, as escolas que faziam e ainda fazem, de forma velada, a malfadada prova para a entrada de novos alunos não deixam de agir assim, não é mesmo? Mas, poderíamos aprimorar o processo.
Para alunos da educação infantil, a avaliação seria tanto das crianças quanto dos pais. A estes, poderíamos fazer um questionário para avaliar, por exemplo, se contam histórias a seus filhos, se fazem ofertas culturais a eles, se praticam educação moral e ensinam virtudes, se têm disponibilidade para acompanhar de perto o trabalho da escola e se são modelos coerentes de pais. E, para as crianças, avaliaríamos o quanto é efetivo o trabalho realizado pelos pais, ou seja, veríamos se a criança demonstra curiosidade pelo mundo à sua volta, se sabe se comportar em situações diversas, se seu conhecimento prévio está de acordo com o esperado etc.
Para alunos do primeiro ciclo do ensino fundamental, o esquema ainda seria semelhante ao citado acima. A avaliação dos pais verificaria itens como disponibilidade para realizar parceria com a escola e comparecer às reuniões, capacidade de organizar o tempo do filho para estudo e para exigir dele compromisso e responsabilidade com o trabalho escolar, condição de delegar de forma respeitosa a educação escolar à instituição de ensino etc. Com os alunos, se poderia verificar se sabem acatar limites e conviver respeitosamente com os colegas, se assimilam bem as lições dadas, se sabem respeitar os adultos etc. A combinação dos dois resultados permitiria elaborar o ranking de famílias, e as escolas disputariam os primeiros colocados e dispensariam os outros.
Com alunos do ciclo final do ensino fundamental e os de ensino médio, os pais poderiam ser dispensados do exame porque, afinal, os filhos já deveriam ter incorporado o trabalho educativo, não é?
Essa brincadeira serve para mostrar a falta de bom senso que é avaliar o trabalho das escolas apenas pelo resultado dos exames de seus alunos. Os pais não precisam levar tão a sério os tais ranking escolares.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

roselysayao@folhasp.com.br

blogdaroselysayao.blog.uol.com.br



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