São Paulo, quinta-feira, 03 de agosto de 2000 |
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poucas e boas Cabeça de camarão contra os coágulos
ISABEL GERHARDT
A cabeça do camarão, que não tem valor comercial, poderá, no futuro, deixar de ser lixo para
virar fonte de uma substância que previne a formação de coágulos sanguíneos no corpo humano: a heparina de baixo peso molecular.
Esse tipo de heparina é três vezes mais eficiente do
que a heparina normal na prevenção da formação dos
trombos (coágulos). Além disso, enquanto a heparina
normal precisa ser administrada no hospital, a de baixo
peso molecular pode ser facilmente administrada em
casa pelo próprio paciente.
Desde a década de 80, um grupo da Unifesp vem tentando buscar fontes de heparina de baixo peso molecular que permitam a extração da substância em quantidades que tornem o processo economicamente viável.
Foi somente no ano passado, entretanto, que o professor do Departamento de Bioquímica da Unifesp,
Carl Peter von Dietrich, e sua equipe identificaram a
molécula no camarão da espécie Penaeus vannamae. A
produção dessa espécie em cativeiro atinge, no Brasil,
20 mil toneladas por ano.
Mas que ninguém se entusiasme: não adianta comer
cabeça de camarão para prevenir a formação dos trombos, alerta von Dietrich. Antes, a heparina precisa ser
extraída das vísceras do animal e purificada.
Formada por dois tipos de açúcares complexos, que
se repetem de forma alternada na molécula, a heparina
existe em duas categorias de tamanho. A maior tem atividade anticoagulante e antitrombótica. A menor,
abundante na cabeça do camarão, apresenta somente
atividade antitrombótica.
"A diferença entre as duas atividades é que a anticoagulante impede a formação de coágulos fora do organismo, como quando o sangue está circulando por uma
máquina, nas operações extracorpóreas", explica von
Dietrich. Já a atividade antitrombótica (presente na heparina de baixo peso molecular do camarão) impede a
formação de coágulos dentro do organismo. "Um
trombo pode levar de um a três meses para se formar",
completa von Dietrich. |
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