São Paulo, quinta-feira, 03 de agosto de 2000
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Até mesmo médicos tratam como se fossem hipoglicêmicos pacientes com labirintite, síndrome do pânico e taquicardia
Diagnóstico de hipoglicemia é confuso

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Discreto suor frio, tremor nas mãos, tontura, dor de cabeça, leve sensação de fome, desmaio, taquicardia, palidez, escuridão na vista. Esse imbróglio de sensações pode ser resultado da hipoglicemia (baixa taxa de açúcar no sangue) reativa, mas nem sempre. "Hipoglicemia não é uma doença de diagnóstico fácil. Muitas vezes se confunde com outros problemas. Parece, mas nem sempre é", afirma o clínico geral do Hospital das Clínicas de São Paulo, Paulo Roberto Correa Hernandes. Muitas vezes, quem recebe o diagnóstico de hipoglicemia reativa pode, na verdade, estar passando por um período de estresse ou ansiedade, situações que podem provocar nas pessoas sintomas parecidos aos causados pela doença. Para Hernandes, rotular essas sensações adrenérgicas (que liberam adrenalina) como um estado de hipoglicemia é classificar o problema erroneamente.
Muitos pacientes chegam ao seu consultório para tratar da hipoglicemia, mas o que têm de fato é labirintite, síndrome do pânico, prolapso de válvula mitral. "Eles entram no "saco de gato" do diagnóstico equivocado", diz Hernandes. A dificuldade é tanta que até mesmo o teste que deveria reconhecer a verdadeira doença de suas "imitações" não é exato. No teste de curva glicêmica, o paciente em jejum toma um copo de glicose e fica três horas encravado numa cadeira. A cada meia hora, é retirada uma amostra de sangue e feita a medição da taxa de glicemia. Para Hernandes, esse é um teste ruim, de difícil interpretação. Márcio Mancini, 37, endocrinologista do HC, diz que esse teste é aceito para diagnosticar diabetes. Mas não é tão eficiente na hora de descobrir se o paciente tem ou não hipoglicemia. Nos estados de hipoglicemia severa, a pessoa perde a noção do que está fazendo, pode falar de modo desconexo e ter comportamento agressivo. Em casos extremos pode até perder e consciência e entrar em coma. A identificação da doença é apenas o primeiro round. Em seguida, é preciso definir a dieta adequada -o que também é complicado. O leigo pode pensar que doces são liberados. Afinal, se a taxa de açúcar no sangue é baixa, há necessidade de repor o açúcar. Não é isso o que acontece. Segundo Mancini, a doença é decorrente de uma crise provocada pelo pâncreas sensível à glicose. Ao ingerir uma torta, por exemplo, o pâncreas trabalha para liberar insulina, hormônio responsável por captar a glicose existente no doce. Se a insulina é produzida além do necessário, a glicose é consumida com tal intensidade que a taxa de açúcar no sangue fica abaixo da normal. Fadlo Fraige, chefe do serviço de endocrinologia do hospital Beneficência Portuguesa, aconselha o hipoglicêmico a ter uma dieta sem açúcar, pobre em carboidratos, mas rica em fibras e proteínas. Fazer as três refeições com outros três lanchinhos e ter uma dieta adequada ao porte e ao índice de massa corporal são outras dicas.


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